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Olhou-me com expressão genuinamente desolada. Sua cara triste me<br />
apagou o sorriso.<br />
-A rainha é nossa soberana. Sabe o que faz - afirmou Frost.<br />
Comecei a rir antes de poder me conter.<br />
O olhar do Frost me fez me arrepender da risada. Durante uma fração de<br />
segundo vi dor naqueles olhos cinzas. Um instante depois já reconstruía suas<br />
defesas. Fechou os olhos para ocultar seus sentimentos, mas já tinha visto o<br />
que se escondia atrás daquela cuidadosa fachada, a roupa cara, seu obsessivo<br />
cuidado pelos detalhes, sua moralidade rigorosa e sua arrogância. Parte disso<br />
era real, mas outra parte era uma máscara.<br />
Nunca tinha gostado de Frost, e esse único episódio significava que já não<br />
poderia aborrecê-lo nunca mais. Merda.<br />
-Já não falaremos disto -disse. Voltou-se e se encaminhou para o lugar pelo<br />
que tinham vindo. A rainha te espera. -Seguiu andando, sem olhar atrás para<br />
comprovar se o seguíamos.<br />
Rhys se colocou a meu lado. Deslizou um braço por meus ombros e me<br />
abraçou.<br />
-Me alegro de que tenha retornado.<br />
Apoiei-me nele um momento.<br />
-Obrigado, Rhys.<br />
Sacudiu-me com delicadeza.<br />
-senti saudades, olhos verdes.<br />
Rhys, ainda mais que Galen, falava inglês moderno. Adorava o jargão. Seu<br />
autor preferido era Dashiell Hammett; seu filme favorito, O falcão maltês, com o<br />
Humphrey Bogart. Tinha uma casa fora da cidade das colinas, com eletricidade<br />
e televisão. Eu tinha passado alguns fins de semana em sua casa. Tinha me<br />
introduzido no mundo dos filmes antigos, e quando eu tinha dezesseis anos<br />
tínhamos ido a um festival de Film Noir no Tivoli de Saint Louis. Ele usou um<br />
casaco e um chapéu de feltro com asa curva. Inclusive me conseguiu roupa de<br />
época para que pudesse segurar em seu braço como uma femme fatale.<br />
Rhys tinha deixado claro naquela ocasião que me considerava algo mais<br />
que uma irmã pequena. Não tínhamos feito nada que pudesse nos custar a<br />
vida, mas sim o suficiente para considerá-lo um encontro de verdade. Depois<br />
disso, minha tia se assegurou de que não passássemos muito tempo juntos.<br />
Galen e eu fazíamos brincadeiras entre nós de uma maneira muito sensual,<br />
mas a rainha parecia confiar no Galen, igual a mim. Nenhum de nós confiava o<br />
suficiente no Rhys.<br />
Rhys me ofereceu seu braço.<br />
Doyle se colocou a meu outro lado. Pensei que me ofereceria seu próprio<br />
braço e que me levariam os dois, mas ao invés disso disse:<br />
-Vai pelo corredor e nos espere -disse.<br />
Frost teria discutido ou inclusive se negado, mas não Rhys.<br />
-É o capitão do Guarda -disse.<br />
Era a resposta de um bom soldado. Dobrou a esquina. Doyle se afastou, me<br />
segurando pelo braço, com objetivo de comprovar que Rhys se afastava o<br />
suficiente para não poder nos ouvir. Então; Doyle retrocedeu comigo até ficar<br />
fora do campo visual do Rhys no caso de que este olhasse por cima do ombro.<br />
Sua mão apertou com força meu antebraço.<br />
-O que mais está levando?<br />
-Confiará no que eu te disser? -Perguntei.