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Era uma espécie de timbre espectral ou um jogo mágico de quente e frio.<br />
Quando não ouvia nada significava que estava frio.<br />
Doyle soltou seu braço e passou sua mão por cima do chão de grama. Eu<br />
nunca estava segura de se a grama se fundia e desaparecia ou se a porta<br />
aparecia sobre ela e esta permanecia ali debaixo, em algum espaço metafísico.<br />
Independentemente de como<br />
funcionasse, apareceu um caminho circular na ladeira. O caminho era<br />
exatamente da medida adequada para que coubéssemos os dois. A abertura<br />
estava banhada em luz. Em caso de necessidade, o caminho podia ser o<br />
suficientemente grande para que passasse por ele um caminhão, como se<br />
percebesse quão grande tinha que ser.<br />
A luz me pareceu mais brilhante do que em realidade era, porque meus<br />
olhos já tinham se habituado à escuridão. A luz era branca mas não dura, uma<br />
suave luz branca que se apreciava do caminho como um bafo luminoso.<br />
-Você primeiro, minha princesa - disse Doyle, fazendo uma reverência.<br />
Eu queria retornar a corte, mas ao olhar aquela colina brilhante pensei que<br />
um buraco no chão é um buraco no chão, seja um sithen ou uma tumba. Não<br />
sei porque me ocorreu de repente esta peculiar analogia. Possivelmente fosse<br />
pela tentaviva de assassinato, ou talvez fosse por causa dos nervos.<br />
Entrei e me encontrei em um enorme corredor de pedra, o bastante largo<br />
para que um tanque passasse comodamente ou para que um gigante não<br />
tivesse que abaixar a cabeça. O corredor sempre era largo, independente de<br />
quão pequena fosse a porta. Doyle se uniu a mim e a porta se desvaneceu<br />
atrás dele, deixando só outra parede de pedra cinza. Igual à colina escondia a<br />
entrada, o interior escondia a saída. Se a rainha desejasse, a porta não se<br />
veria absolutamente de dentro. Era muito fácil passar de convidado a<br />
prisioneiro. Este pensamento era muito pouco reconfortante.<br />
A luz branca que banhava o corredor não tinha origem, vinha de todas<br />
partes e de nenhuma. A pedra cinza parecia granito, o qual significa que não<br />
era de St. Louis. Aqui a pedra é vermelha ou avermelhada, não cinza. Inclusive<br />
nossa pedra a importamos de alguma costa estrangeira.<br />
Contaram-me que faz tempo havia mundos inteiros debaixo do chão.<br />
Prados e vales e um sol e uma lua próprios. Vi orquídeas moribundas e jardins<br />
de flores com alguns brotos disseminados, mas não um sol e nenhuma lua<br />
próprios. Os quartos são maiores e mais quadrados do que deveriam ser, e o<br />
desenho do interior parece trocar ao azar, em ocasiões enquanto está<br />
caminhando por aí: é como caminhar por uma casa de parque de atrações feita<br />
de pedra, em lugar de espelhos. Mas não há prados, ou não os vi. Eu estou<br />
tentada a acreditar que os outros mantenham segredos de mim. Não me<br />
surpreenderia, mas que eu saiba não há mundos debaixo do chão, só pedra e<br />
cômodos.<br />
Doyle me ofereceu seu braço, de um modo muito formal. Enlacei-o com<br />
delicadeza, basicamente por falta de costume.<br />
O corredor se curvava mais adiante. Ouvi passos aproximando-se para nós.<br />
Doyle tocou delicadamente o meu braço. Eu me detive e o olhei.<br />
-O que é isso? - Perguntei.<br />
Doyle retrocedeu, comigo no braço. De repente se deteve, agarrou-me o<br />
vestido e levantou a saia o suficiente para deixar ao descoberto meus<br />
tornozelos e a arma.