boletim tr/es 2012.165 - Justiça Federal
boletim tr/es 2012.165 - Justiça Federal
boletim tr/es 2012.165 - Justiça Federal
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
ACÓRDÃO<br />
Vistos, relatados e discutidos <strong>es</strong>t<strong>es</strong> autos, acordam os Juíz<strong>es</strong> da Turma Recursal dos Juizados Especiais Federais<br />
da Seção Judiciária do Espírito Santo, por unanimidade, CONHECER DO RECURSO e, no mérito, NEGAR-LHE<br />
PROVIMENTO, na forma da ementa constante dos autos, que passa a integrar o pr<strong>es</strong>ente julgado.<br />
BRUNO DUTRA<br />
Juiz <strong>Federal</strong> Relator<br />
25 - 0000346-83.2010.4.02.5051/01 (2010.50.51.000346-2/01) INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS<br />
(PROCDOR: Luis Guilherme Nogueira Freire Carneiro.) x TEREZINHA RODRIGUES DA SILVA DOS SANTOS<br />
(ADVOGADO: URBANO LEAL PEREIRA, Laerte de Campos Hosken.).<br />
RECURSO DE SENTENÇA Nº 0000346-83.2010.4.02.5051/01<br />
RECORRENTE: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS<br />
RECORRIDO: TEREZINHA RODRIGUES DA SILVA DOS SANTOS<br />
RELATOR: JUIZ FEDERAL BRUNO DUTRA<br />
EMENTA<br />
RECURSO INOMINDADO - PREVIDENCIÁRIO – APOSENTADORIA POR IDADE – RURAL – SEGURADO ESPECIAL –<br />
SUFICIENTE INÍCIO DE PROVA MATERIAL NOS AUTOS CORROBORADO PELA PROVA TESTEMUNHAL –<br />
SENTENÇA MANTIDA - RECURSO CONHECIDO E IMPROVIDO.<br />
Trata-se de recurso inominado interposto pelo INSS, por meio do qual a autarquia requer a reforma da sentença de fl.<br />
131/134 que julgou procedente o pedido de aposentadoria rural por idade da autora. O recorrente alega que não foi<br />
comprovado o efetivo exercício de atividade rural pelo tempo de carência suficiente, conforme disposto no art. 142 da Lei nº<br />
8.213/91, aduzindo inexistir início de prova material nos autos, <strong>es</strong>pecialmente devido ao fato de o <strong>es</strong>poso da parte autora ter<br />
exercido atividade urbana. Ademais, salienta que a autora percebe atualmente pensão por morte no valor de<br />
aproximadamente R$ 800,00 (oitocentos reais) e que não houve atividade rural no período em que a autora r<strong>es</strong>idiu no Rio<br />
de Janeiro. Con<strong>tr</strong>arrazõ<strong>es</strong> às fls. 141/142.<br />
Em primeiro lugar, é importante r<strong>es</strong>saltar que, nos termos do art. 143 da Lei nº 8.213/91, o <strong>tr</strong>abalhador rural referido na<br />
alínea “a” dos incisos I e IV, e nos incisos VI e VII do art. 11 da m<strong>es</strong>ma lei, além de comprovar a idade mínima (55<br />
anos/mulher) deve comprovar o efetivo exercício de atividade rural, ainda que de forma d<strong>es</strong>contínua, no período<br />
imediatamente anterior ao requerimento do benefício, por tempo igual ao número de m<strong>es</strong><strong>es</strong> de con<strong>tr</strong>ibuição corr<strong>es</strong>pondente<br />
à carência do benefício postulado. Para fins de reconhecimento do exercício de atividade rural, o serviço deve ser<br />
comprovado ao menos por início de razoável prova material contemporânea à época dos fatos, nos termos do art. 55, § 3º<br />
da Lei nº 8.213/91. No entanto, levando-se em conta as condiçõ<strong>es</strong> em que são exercidas as atividad<strong>es</strong> rurícolas, não se<br />
deve exigir rigor ex<strong>tr</strong>emo na comprovação d<strong>es</strong>te <strong>tr</strong>abalho, que é exercido em regime de economia familiar na forma do art.<br />
11, inciso VII, § 1º da Lei nº 8.213/91.<br />
Na hipót<strong>es</strong>e, como foi acima vislumbrado, aduz o recorrente que não há nos autos prova acerca do efetivo exercício de<br />
atividade rural pelo tempo de carência exigido. Não assiste razão à Autarquia Previdenciária. Deve-se r<strong>es</strong>saltar que o<br />
exercício de labor rural foi comprovado pela recorrida por meio de prova documental mínima, qual seja: i) cadas<strong>tr</strong>o no<br />
Sindicato dos Trabalhador<strong>es</strong> Rurais de Ibatiba/ES, com data de admissão em 20/06/1997, havendo recibos referent<strong>es</strong> a<br />
pagamentos de mensalidad<strong>es</strong> nos m<strong>es</strong><strong>es</strong> de agosto/92, junho/97, maio/99, maio/2000, setembro e novembro/2001 (fl. 13);<br />
ii) cadas<strong>tr</strong>o no Sindicato dos Trabalhador<strong>es</strong> Rurais de Iúna, com data de admissão em 10/03/1986; e iii) documentos<br />
relativos a sua propriedade rural (fls. 19/27).<br />
A prova documental foi corroborada pela prova t<strong>es</strong>temunhal colhida em audiência, conforme CD-R de áudio (fl. 145). Não<br />
houve con<strong>tr</strong>adição ou imprecisão en<strong>tr</strong>e o depoimento da parte autora e da t<strong>es</strong>temunha, sendo que <strong>es</strong>ta confirmou o labor<br />
rural nos períodos indicados na inicial. A t<strong>es</strong>temunha ouvida afirmou que, quando a autora retornou do Rio de Janeiro, ela<br />
se mudou para a m<strong>es</strong>ma propriedade que morava com o pai, sendo que, após o falecimento d<strong>es</strong>te, a propriedade foi<br />
dividida, ficando a autora com um pedaço (aproximadamente 25 li<strong>tr</strong>os, segundo a autora). O depoente aduz, ainda, que a<br />
autora nunca <strong>tr</strong>abalhou na rua, tocando a propriedade atualmente, onde tem cerca de duas mil covas de café. Assim, r<strong>es</strong>ta<br />
comprovado a existência de labor rural em regime de economia familiar.<br />
Consoante jurisprudência consolidada no Superior Tribunal de <strong>Justiça</strong> e na Turma Nacional de Uniformização de<br />
Jurisprudência dos Juizados Especiais Federais , o <strong>tr</strong>abalho urbano d<strong>es</strong>empenhado pelo cônjuge, por si só, não<br />
d<strong>es</strong>caracteriza o exercício de atividade rural em regime de economia familiar pelo segurado <strong>es</strong>pecial. Compulsando os<br />
autos, concluo que o <strong>tr</strong>abalho rural da autora sempre foi impr<strong>es</strong>cindível para o sustento da família. O labor urbano do<br />
marido da recorrida como servidor público (agente de Polícia Judiciária), bem como a pensão por morte atualmente<br />
recebida por ela, não afasta <strong>es</strong>sa conclusão, mormente porque equivale a valor pouco superior ao mínimo. Conforme<br />
declarado pela autora, os valor<strong>es</strong> recebidos pelo marido e a pensão percebida atualmente não são suficient<strong>es</strong> para a<br />
manutenção de sua subsistência. Assim, o INSS não logrou êxito em comprovar que, devido ao <strong>tr</strong>abalho urbano do marido<br />
da autora, a atividade rural era dispensável, de modo que não há que se falar em d<strong>es</strong>caracterização da condição de