17.04.2013 Views

boletim tr/es 2012.165 - Justiça Federal

boletim tr/es 2012.165 - Justiça Federal

boletim tr/es 2012.165 - Justiça Federal

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

IMPETRADO: JUÍZO FEDERAL DO JUIZADO ESPECIAL FEDERAL DE COLATINA/ES<br />

LITISCONSORTE PASSIVO: MARIA DO CARMO<br />

RELATOR: JUIZ FEDERAL BRUNO DUTRA<br />

EMENTA<br />

MANDADO DE SEGURANÇA. PROCESSUAL CIVIL. ATO JUDICIAL. INADMISSIBILIDADE DE RECURSO INOMINADO.<br />

ALEGAÇÃO DE NULIDADE DA SENTENÇA RECORRIDA. INDEFERIMENTO DE PROPOSTA DE ACORDO<br />

FORMULADA AO FINAL DA INSTRUÇÃO PROCESSUAL. INOCORRÊNCIA DE PREJUÍZO ÀS PARTES LITIGANTES.<br />

PRIMAZIA DA EFETIVIDADE DA TUTELA JURISDICIONAL. AUSÊNCIA DE INTERESSE RECURSAL. ILEGALIDADE<br />

NÃO RECONHECIDA. SEGURANÇA DENEGADA. DECISÃO MANTIDA.<br />

1. Trata-se de mandado de segurança impe<strong>tr</strong>ado pelo Instituto Nacional do Seguro Social – INSS, em face de decisão<br />

proferida pelo Juízo <strong>Federal</strong> do Juizado Especial <strong>Federal</strong> de Colatina/ES nos autos da Ação n.º 0000804-28.2009.4.02.5054<br />

(cópia à fl. 27), que negou seguimento ao recurso inominado manejado pela autarquia previdenciária, por falta de inter<strong>es</strong>se<br />

proc<strong>es</strong>sual. Em breve sínt<strong>es</strong>e, o ente impe<strong>tr</strong>ante alega que não compete ao juízo a quo o exame sobre a admissibilidade da<br />

iniciativa recursal, sendo certo que a conduta da autoridade impe<strong>tr</strong>ada deixou a autarquia “sem mecanismos para a subida<br />

de seu recurso inominado a <strong>es</strong>te órgão colegiado”. Por fim, reitera a suposta ilegalidade da sentença d<strong>es</strong>afiada pelo recurso<br />

inadmitido e postula a declaração da nulidade absoluta da decisão atacada.<br />

2. O mandado de segurança tem por finalidade proteger direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas<br />

data, quando o r<strong>es</strong>ponsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de p<strong>es</strong>soa jurídica no<br />

exercício de a<strong>tr</strong>ibuiçõ<strong>es</strong> do Poder Público. Sua previsão encon<strong>tr</strong>a abrigo no art. 5º, LXIX, da Constituição de 1988,<br />

inserindo-se no núcleo dos direitos e garantias individuais de índole proc<strong>es</strong>sual (remédios heróicos) d<strong>es</strong>tinados ao combate<br />

de abuso de poder derivado da atuação dos repr<strong>es</strong>entant<strong>es</strong> da adminis<strong>tr</strong>ação pública em sentido amplo, en<strong>tr</strong>e os quais se<br />

inclui o juiz.<br />

3. No exercício da função jurisdicional, o magis<strong>tr</strong>ado exerce parcela do poder do Estado e, n<strong>es</strong>sa função, deve r<strong>es</strong>peito,<br />

sobretudo, ao princípio da legalidade. Contudo, no d<strong>es</strong>empenho de sua peculiar atividade, o juiz não pode afastar-se da<br />

interpretação da norma legal, <strong>es</strong>tabelecendo as premissas para sua aplicação, extensão, alcance e efeitos, em busca da<br />

solução justa aplicável ao caso concreto.<br />

4. No caso sob apreço, a decisão impugnada – negativa de seguimento ao recurso inominado aviado pelo INSS – não<br />

padece de vício de ilegalidade. Ao con<strong>tr</strong>ário, o ato judicial qu<strong>es</strong>tionado, na visão d<strong>es</strong>te relator, aplicou a melhor orientação<br />

ao caso concreto, negando seguimento à medida proc<strong>es</strong>sual d<strong>es</strong>tituída de qualquer utilidade prática.<br />

5. N<strong>es</strong>se diapasão, afasta-se, de início, a alegação de que o exame de admissibilidade recursal r<strong>es</strong><strong>tr</strong>inge-se ao juízo ad<br />

quem no âmbito dos juizados <strong>es</strong>peciais, eis que, na ausência de previsão con<strong>tr</strong>ária no regramento próprio d<strong>es</strong>te subsistema<br />

proc<strong>es</strong>sual, aplicam-se, subsidiariamente, as pr<strong>es</strong>criçõ<strong>es</strong> da lei geral norteadora do direito proc<strong>es</strong>sual civil brasileiro (CPC),<br />

que prevê o duplo juízo de admissibilidade dos recursos (art. 518).<br />

6. Ul<strong>tr</strong>apassada <strong>es</strong>ta qu<strong>es</strong>tão, verifico que o recurso manejado pelo INSS realmente não ostenta o requisito ex<strong>tr</strong>ínseco do<br />

inter<strong>es</strong>se proc<strong>es</strong>sual, eis que a autarquia busca assegurar a possibilidade de formulação de proposta de acordo a qualquer<br />

tempo do proc<strong>es</strong>so – em <strong>es</strong>pecial, ao final da audiência de ins<strong>tr</strong>ução e julgamento –, quando, em verdade, tal medida<br />

poderia renovar-se logo após a sentença que é objeto de impugnação no apelo do ente previdenciário.<br />

7. N<strong>es</strong>te ponto, quadra regis<strong>tr</strong>ar que a disciplina proc<strong>es</strong>sual alberga a possibilidade de <strong>tr</strong>ansação a qualquer tempo durante<br />

o curso da relação proc<strong>es</strong>sual, até m<strong>es</strong>mo na fase de execução de provimento condenatório. N<strong>es</strong>se fluxo de interpretação,<br />

a negativa em homologar proposta conciliatória formalizada quando o proc<strong>es</strong>so já <strong>es</strong>tava em fase de prolação de sentença,<br />

se não atende ao primado da busca primeira pela <strong>tr</strong>ansação judicial, igualmente não origina qualquer vício na <strong>es</strong><strong>tr</strong>utura da<br />

relação proc<strong>es</strong>sual hábil a ensejar sua nulidade, já que, se insatisfeitas com a subsistência do litígio, as part<strong>es</strong> poderiam,<br />

em seguida, promover a conciliação em juízo.<br />

8. Com isto quer-se dizer que, se de um lado, a ausência de limitação temporal para a formalização de acordo judicial en<strong>tr</strong>e<br />

as part<strong>es</strong> é invocada como fundamento para a pretensão de nulidade do proc<strong>es</strong>so, <strong>es</strong>te m<strong>es</strong>mo argumento é suficiente a<br />

<strong>es</strong>corar a ausência de vício do ato decisório que rechaçou a proposta da autarquia, simpl<strong>es</strong>mente porque a m<strong>es</strong>ma<br />

iniciativa poderia renovar-se a qualquer momento, inclusive imediatamente após a conclusão do julgamento em primeiro<br />

grau de jurisdição ou, até m<strong>es</strong>mo, em grau recursal.<br />

9. Ora, promover a declaração de nulidade da sentença e determinar a baixa dos autos ao juízo de origem para novo<br />

julgamento apenas para permitir que o INSS lance proposta de acordo ant<strong>es</strong> de sua prolação atenta con<strong>tr</strong>a os princípios<br />

mais basilar<strong>es</strong> do rito informal próprio d<strong>es</strong>ta jurisdição <strong>es</strong>pecializada e significa, no entender d<strong>es</strong>te magis<strong>tr</strong>ado, fazer uso da<br />

le<strong>tr</strong>a da lei para, justamente, nulificar o seu <strong>es</strong>pírito, em postura absolutamente incongruente com o <strong>es</strong>copo maior d<strong>es</strong>ta<br />

<strong>Justiça</strong>: a pr<strong>es</strong>tação efetiva e célere da tutela jurisdicional.<br />

10. Por conclusão, tem-se que a postura do magis<strong>tr</strong>ado, no caso concreto, não tem o condão de ocasionar, nem m<strong>es</strong>mo<br />

potencialmente, qualquer prejuízo às part<strong>es</strong> litigant<strong>es</strong>, circunstância que, aliada aos princípios da efetividade da pr<strong>es</strong>tação<br />

jurisdicional e da duração razoável do proc<strong>es</strong>so, conduz à convalidação do feito e ao aproveitamento dos atos proc<strong>es</strong>suais<br />

praticados após a decisão qu<strong>es</strong>tionada, notadamente da sentença ora impugnada, nos termos do art. 249, §1º, do Código<br />

de Proc<strong>es</strong>so Civil.<br />

11. Por todo o exposto, reputo que a iniciativa recursal do INSS realmente carece inter<strong>es</strong>se (utilidade-nec<strong>es</strong>sidade), já que<br />

nova proposta de acordo poderia ser formulada a qualquer tempo, inclusive logo após a prolação da sentença impugnada<br />

via recurso inominado. Assentada <strong>es</strong>sa premissa, r<strong>es</strong>ta concluir que o ato judicial qu<strong>es</strong>tionado n<strong>es</strong>ta ação mandamental –<br />

negativa de seguimento do recurso inominado – não padece de vício de ilegalidade, o que conduz à denegação da<br />

segurança pleiteada n<strong>es</strong>te writ.<br />

12. Segurança denegada.<br />

13. Sem condenação em custas e em honorários advocatícios.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!