abordagem psicossocial do trabalho penoso: estudo ... - Fundacentro
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Pág. 96<br />
minutos, garantin<strong>do</strong> assim um perío<strong>do</strong> maior de intervalo e ao mesmo<br />
tempo, entenden<strong>do</strong> que o "negócio <strong>do</strong> passageiro é chegar logo".<br />
Essa explicação, portanto, tem dupla sustentação: de um<br />
la<strong>do</strong> o fato de prestarem serviço à população e de outro a evitação <strong>do</strong><br />
incômo<strong>do</strong>. Em alguns trechos <strong>do</strong> discurso a condição de <strong>trabalho</strong><br />
"penosa" está intimamente relacionada com a qualidade <strong>do</strong> serviço<br />
presta<strong>do</strong>: "quan<strong>do</strong> o motorista se acostuma com a linha ele não faz<br />
besteira, não arrasta passageiro".<br />
O passageiro é motivo de vários fragmentos das<br />
representações sociais. Existem os bons, os ruins; mulheres são mais<br />
educadas, mulheres às vezes são mais inadequadas; "passageiro de<br />
COHAB é tu<strong>do</strong> índio"; passageiro que tem uma condição melhor<br />
destrata o motorista porque tem acesso a políticos. Essas tipologias<br />
estão articuladas com a prática que a<strong>do</strong>tam na relação com o<br />
passageiro.<br />
Frente a passageiros desconheci<strong>do</strong>s não se sabe ao certo em<br />
qual dessas categorias ele se enquadra, daí porque muitos evitam<br />
dirigir-lhe a palavra, uma vez que podem surgir situações indesejadas:<br />
"a gente não sabe se é uma víbora". Mesmo no caso em que é possível<br />
enquadrá-los em alguma dessas tipologias, se a previsão é de que será<br />
gera<strong>do</strong> atrito a partir de uma imposição de limites por parte <strong>do</strong><br />
motorista, eles também procuram evitar. No entanto, existem outras<br />
formas de comunicação não verbal a<strong>do</strong>tadas pelo motorista que<br />
substituem o diálogo.<br />
Para desalojar os passageiros que viajam nos degraus da<br />
entrada trazeira, impedin<strong>do</strong> o fechamento de portas, o motorista tenta<br />
fechá-la várias vezes ou mantêm o veículo para<strong>do</strong> até que os<br />
passageiros percebam que enquanto ele não conseguir mantê-la<br />
fechada não prosseguirão a viagem.<br />
Existem outras práticas a<strong>do</strong>tadas para sensibilizar o<br />
passageiro como a "quebrada de asa", que significa trafegar<br />
rapidamente de uma pista para a outra da via, cujo objetivo é comunicar