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abordagem psicossocial do trabalho penoso: estudo ... - Fundacentro

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Pág. 75<br />

Longe de ser um ato voluntário, misturar é uma<br />

"necessidade", como define um <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s. É uma necessidade<br />

porque já ultrapassou os limites <strong>do</strong> suportável. É necessário muitas<br />

vezes ter auto-controle para continuar trabalhan<strong>do</strong>, denotan<strong>do</strong> que<br />

quan<strong>do</strong> não é possível controlar os contextos de <strong>trabalho</strong> "<strong>penoso</strong>s", é<br />

necessário controlar a si mesmo.<br />

O espaço de circunscrição daquilo que é designa<strong>do</strong> como<br />

misturar é a mente, a cabeça pois o <strong>trabalho</strong> com coletivos força muito<br />

a mente ou mexe muito com a mente e isto ocorre devi<strong>do</strong> a uma série<br />

de aspectos que vão desde a relação com o passageiro, passan<strong>do</strong> pela<br />

organização <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> na garagem e na linha, pelas condições de<br />

manutenção <strong>do</strong>s carros até as condições de trânsito. Da mesma forma<br />

que observa<strong>do</strong> em outras palavras-índice, aquilo que força a mente é<br />

a interação de fatores que forja contextos de <strong>trabalho</strong> "<strong>penoso</strong>s"<br />

emocional e cognitivamente. Os motoristas definem o esta<strong>do</strong><br />

emocional misturar como sen<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> eles sentem que foram<br />

irrita<strong>do</strong>s demais, quan<strong>do</strong> eles estão nervosos demais e quan<strong>do</strong> foram<br />

"transpassa<strong>do</strong>s". Ter si<strong>do</strong> transpassa<strong>do</strong> significa ter si<strong>do</strong> viola<strong>do</strong> em seu<br />

limite subjetivo <strong>do</strong> suportável. É o excesso de nervosismo, de irritação,<br />

de tensão e de esforço. Quan<strong>do</strong> o motorista está misturan<strong>do</strong> ele está<br />

expressan<strong>do</strong> sua "revolta".<br />

São emprega<strong>do</strong>s encadeadamente com essa palavra-índice<br />

os seguintes: louco, pira<strong>do</strong>, esgotamento nervoso abala<strong>do</strong>, trauma<br />

nervoso, totalmente confuso, lelé.<br />

O desarranjo da subjetividade ocorri<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> o motorista<br />

está nervoso demais, quan<strong>do</strong> está misturan<strong>do</strong> é objetiva<strong>do</strong> em<br />

manifestações psicológicas e fisiológicas, como relata um entrevista<strong>do</strong><br />

que teve esgotamento nervoso: "me deu bem dizer um trauma nervoso<br />

né, fiquei revolta<strong>do</strong>, eu só sabia chorar e tremer, minhas vistas escureciam,<br />

não via nada, não enxergava nada.,, então eu, qualquer coisinha, tava<br />

discutin<strong>do</strong>, brigan<strong>do</strong> com to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, em casa qualquer coisinha... eu<br />

cheguei a estourar os vidros da porta de casa, cheguei a quebrar tu<strong>do</strong> os<br />

vidros e me dava muita <strong>do</strong>r de cabeça, me <strong>do</strong>ía demais, me atacava outras

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