abordagem psicossocial do trabalho penoso: estudo ... - Fundacentro
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A essencialidade desse aspecto para a compreensão da<br />
penosidade <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> é indubitável, da<strong>do</strong> que os motoristas relatam<br />
experiências de <strong>trabalho</strong> associadas ao sofrimento quan<strong>do</strong> da entrada<br />
na profissão: "Ah, a pessoa fica nervosa porque ele passou a motorista<br />
esses dias, então a pessoa fica com me<strong>do</strong> de andar, não tem experiência,<br />
não tem nada. Eu mesmo quan<strong>do</strong> comecei a trabalhar fiquei meio<br />
cisma<strong>do</strong> assim. Não tinhaprática, então a gente fica com receio de andar,<br />
então é numa dessa que os passageiros começam a chiar com agente e a<br />
gente fica nervoso." A familiaridade é um conhecimento que se adquire<br />
e se constrói com a experiência de <strong>trabalho</strong>.<br />
Acostumar-se com o <strong>trabalho</strong> e adquirir prática no <strong>trabalho</strong><br />
são expressões empregadas para designar esse processo de<br />
familiarização gradativa que ocorre durante o exercício da profissão:<br />
"no começo houve um pouco de nervosismo devi<strong>do</strong> ao trânsito, devi<strong>do</strong><br />
né, falta de costume,pâra-pára, então não estava adapta<strong>do</strong> a essas coisas,<br />
né, então eu estranhei". Outros referem que no início <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong>,<br />
tinham o desejo de sair, devi<strong>do</strong> ao estranhamento <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong>:<br />
"...aconteceu um tempo atrás, eu fui na garagem pediprá me mandar<br />
embora, eu achei que não estava suportan<strong>do</strong>, sabe?" Esses depoimentos<br />
corroboram a afirmação de DEJOURS(1980) de que o perío<strong>do</strong> de<br />
adaptação é "<strong>penoso</strong>".<br />
O processo que visa tornar familiar aquilo que é estranho<br />
implica na tentativa de acomodação, de ajuste entre o trabalha<strong>do</strong>r e o<br />
<strong>trabalho</strong>, envolven<strong>do</strong> também o esforço de tornar-se familiar ao<br />
<strong>trabalho</strong>.<br />
A familiarização com o <strong>trabalho</strong> não é um processo de<br />
aprendizagem que se dá passivamente, não é um caminho de mão<br />
única. Ela se constrói entrelaçan<strong>do</strong>-se ao conhecimento que o<br />
trabalha<strong>do</strong>r já possui. Além disso, não é um processo visan<strong>do</strong> apenas<br />
tornar o <strong>trabalho</strong> familiar, pois, ao mesmo tempo, é um processo de<br />
auto-conhecimento, conhecimento de seus iimites subjetivos, <strong>do</strong>s<br />
limites impostos pelo <strong>trabalho</strong> e de interfaces trabalha<strong>do</strong>r-<strong>trabalho</strong><br />
onde se experiência maior ou menor conforto no <strong>trabalho</strong>. Um <strong>do</strong>s