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abordagem psicossocial do trabalho penoso: estudo ... - Fundacentro

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Pág. 39<br />

Como primeiro passo identificamos se o adjetivo "<strong>penoso</strong>"<br />

faz parte <strong>do</strong> vocabulário utiliza<strong>do</strong> no dia a dia pelo trabalha<strong>do</strong>r. Em<br />

conversas que tivemos oportunidade de travar com motoristas e<br />

ex-cobra<strong>do</strong>res de ônibus, antes de realizarmos este <strong>trabalho</strong> de campo,<br />

pudemos observar que a nada eles se referem como sen<strong>do</strong> "<strong>penoso</strong>".<br />

Entretanto, pudemos observar também a consideração de que tanto o<br />

motorista como o cobra<strong>do</strong>r "pastam prá caramba", "são castiga<strong>do</strong>s",<br />

"não agüentam", "vivem no sufoco", sentem que o <strong>trabalho</strong> "não é fácil,<br />

édesgastantee nervoso".<br />

Algumas dessas formas de expressão, além de qualificar a<br />

vivência, quantificam a intensidade da mesma, como é o caso de<br />

"pastam prá caramba" e "não agüentam". "Caramba" é utiliza<strong>do</strong> com o<br />

significa<strong>do</strong> de muito, bastante, enquanto "não agüentar" uma situação<br />

ou algo significa não poder suportá-la. A expressão "pastar" nos remete<br />

ao que Deyl Ozório de OLIVEIRA (1971) identifica como <strong>trabalho</strong><br />

desumano e força<strong>do</strong>.<br />

Essas constatações preliminares evidenciou a necessidade<br />

de nos voltarmos para as formas através das quais os motoristas<br />

referem-se ao "<strong>trabalho</strong> <strong>penoso</strong>". Assim, passamos a identificar, nos<br />

discursos <strong>do</strong>s motoristas, o que denominamos de palavras-índice. São<br />

expressões extraídas da linguagem criada pelos motoristas que<br />

remetem a vivências de sintonia com o <strong>trabalho</strong>, como o conforto, o<br />

incômo<strong>do</strong>, o sofrimento dentre outras. Para identificar quais seriam as<br />

palavras-índice que nos levariam à delimitação <strong>do</strong> conceito<br />

utilizamo-nos das indicações já obtidas através da literatura sobfè o<br />

assunto e da compreensão sobre o universo simbólico <strong>do</strong>s motoristas<br />

alcançada no decorrer <strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> de campo. A linguagem <strong>do</strong>s<br />

motoristas tem uma especificidade, apesar de não se tratar de uma<br />

outra língua, já que empresta as palavras <strong>do</strong> português fala<strong>do</strong> por nós.<br />

Nesse senti<strong>do</strong>, existe uma interface entre a linguagem <strong>do</strong>s motoristas<br />

e a nossa. Essa linguagem foi criada porque existe algo que é<br />

significativo e merece ser nomina<strong>do</strong>.

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