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abordagem psicossocial do trabalho penoso: estudo ... - Fundacentro

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Pág. 87<br />

nomenclatura médica, entende que o discurso fragmenta<strong>do</strong> sobre a<br />

<strong>do</strong>ença e o corpo, emiti<strong>do</strong> por <strong>do</strong>entes das classes populares, deve-se<br />

à forma de comunicação entre o médico e eles. Sem dúvida, esse é um<br />

aspecto importante que explica as razões <strong>do</strong> discurso fragmenta<strong>do</strong>.<br />

Porém, acrescentaríamos que o esforço de compreensão, de tornar o<br />

não familiar em familiar, de incorporar um elemento descola<strong>do</strong> da rede<br />

de conhecimentos já existente em elemento coerentemente integra<strong>do</strong><br />

nessa mesma rede, explica o neologismo cria<strong>do</strong> pelos motoristas. Como<br />

refere MOSCOVICI (1978): "Como os 'curiosos' e os'virtusos''que,<br />

em séculos passa<strong>do</strong>s, povoaram as academias, sociedades filosóficas e<br />

universidades populares, cada um procura manter contato com as<br />

idéias que pairam no ar e responder às interrogações que nos<br />

atormentam. Nenhuma noção é servida com o seu mo<strong>do</strong> de emprego,<br />

nenhum experimento se apresenta com o seu méto<strong>do</strong>, e ao tomar<br />

conhecimento de tais noções e experimentos o indivíduo usa-os como<br />

melhor entende. O importante é poder integrá-los num quadro<br />

coerente <strong>do</strong> real ou a<strong>do</strong>tar uma linguagem que permita falar daquilo<br />

de que to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> fala. Esse duplo movimento de familiarização com<br />

o real, pela extração de um senti<strong>do</strong> ou de uma ordem através <strong>do</strong> que é<br />

relata<strong>do</strong> e pela manipulação <strong>do</strong>s átomos de conhecimento dissocia<strong>do</strong>s<br />

de seu contexto lógico normal, desempenha um papel capital.<br />

Corresponde a uma constante preocupação: preencher lacunas,<br />

suprimir a distância entre o que se sabe, por um la<strong>do</strong>, e o que se observa,<br />

por outro, completar as 'divisórias vazias', de um saber pelas 'divisórias<br />

cheias' de um outro saber..."(p. 55). O neologismo, portanto, é produto<br />

da interação entre o conhecimento já existente e da incorporação<br />

modificada de novos elementos.<br />

Essa linguagem cria não só novas palavras, mas também<br />

expressões e dita<strong>do</strong>s, que visam garantir significa<strong>do</strong> à criação de novos<br />

objetos, traduzir práticas e padrões de relacionamento <strong>do</strong>s motoristas<br />

com o <strong>trabalho</strong> e <strong>do</strong>s motoristas entre si.<br />

Os opera<strong>do</strong>res são "chapéu de bico"? "virada seca" nomina a<br />

ausência de pausas entre as meias-viagens, "boneco" é o passageiro,<br />

"bater banco" é viajar com carro quase vazio e "muamba" é o excesso<br />

de lotação. "Calça branca" é o opera<strong>do</strong>r novato, "pé de cabra" é a

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