abordagem psicossocial do trabalho penoso: estudo ... - Fundacentro
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Pág. 86<br />
A esse respeito um <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s refere que no começo<br />
<strong>do</strong> <strong>trabalho</strong> "a pessoa fica nervosa, então a pessoa fica com me<strong>do</strong> de<br />
andar, não tem experiência, não tem nada. Eu mesmo quan<strong>do</strong> comecei<br />
a trabalhar fiquei meio cisma<strong>do</strong> assim..., não tinha prática, então a gente<br />
fica com receio de andar*'. A não familiaridade, além da novidade <strong>do</strong><br />
<strong>trabalho</strong> em si, mostra que ele não detém o saber sobre as práticas para<br />
lidar com o <strong>trabalho</strong>.<br />
As representações sociais, por sua vez, garantem a esse<br />
conjunto de práticas significação e coerência. É o universo simbólico<br />
que se constitui no conhecimento da prática. São elas que<br />
instrumentalizam a socialização das ações adapíativas, ações essas que<br />
permitem passar <strong>do</strong> não familiar "não adapta<strong>do</strong>", "não acostuma<strong>do</strong>" -<br />
prescrito -, para o familiar - real.<br />
A linguagem é um <strong>do</strong>s canais que permite ingressar no<br />
universo das representações sociais. Sen<strong>do</strong> um conjunto de signos ela<br />
é criada na interação social. É um produto social. Segun<strong>do</strong><br />
BAKHTIN(1990) "os signos só emergem, decididamente, no processo<br />
de interação entre uma consciência individual e uma outra"(p. 34). Mas<br />
para isso, é necessário que esses indivíduos estejam socialmente<br />
organiza<strong>do</strong>s. No caso <strong>do</strong>s motoristas, para traduzir a realidade<br />
construída são criadas novas palavras e conceitos. Assim, o horário de<br />
"rush" é para alguns motoristas o horário <strong>do</strong> "ruge", a adaptação é a<br />
"adabitação".<br />
A linguagem médica também é incorporada e<br />
reapresentada por eles e para eles. Assim, achar que motorista sofre<br />
de "de-pressão" está sustentada pela vivência de pressão sofrida no dia<br />
a dia de <strong>trabalho</strong>. Essas novas palavras não são incorreções da língua<br />
portuguesa ou de tradução de outras e tampouco incompreensões de<br />
conceitos. São novas palavras com conceitos diferentes, mais ou menos<br />
próximos daquelas que derivam.<br />
BOLTANSKI(1989) analisan<strong>do</strong> as representações das<br />
classes populares sobre o corpo e a <strong>do</strong>ença, a partir <strong>do</strong> emprego da