abordagem psicossocial do trabalho penoso: estudo ... - Fundacentro
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Pág. 67<br />
Reconhecer a limitação <strong>do</strong> poder de modificação ou de<br />
interferência nos contextos "<strong>penoso</strong>s" de <strong>trabalho</strong> gera a conformação<br />
<strong>do</strong> motorista a esse limite:" o meu carro chega num limite ele corta o<br />
óleo e não adiante eu pisar mais, você vai acaban<strong>do</strong> o que., você vai ter<br />
que apertar mais o acelera<strong>do</strong>r, você vai cansar logicamente né. Então não<br />
adianta eu querer batalhar, é remar contra a maré, eu tenho que me<br />
conformar com aquilo dali. Então tem hora que pega outro carro, o carro<br />
anda a 70por hora, enquanto o outro anda a 80, outro anda a 60, ele não<br />
deslancha mais <strong>do</strong> que aquilo. Então não adianta, eu vou cansar tanto a<br />
mente como o corpo".<br />
Reconhecen<strong>do</strong> a limitação para o exercício <strong>do</strong> poder é que<br />
um <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s considerou o seu <strong>trabalho</strong> "<strong>penoso</strong>": "é meio<br />
<strong>penoso</strong> por agüentar todas essas conseqüências que a gente agüenta né,<br />
mas se toma mais <strong>penoso</strong> se a gente levar aquilo assim, né, se a gente for<br />
pensar naquilo, mas se a gente procurar meio que disfarçar então se torna<br />
menos <strong>penoso</strong>... então é uma coisa bastante prejudicial no serviço da<br />
gente isso aí, porque você vai ser obriga<strong>do</strong> a se fazer de bobo prá poder<br />
viver". Ao fazer-se de bobo ele expressa a existência de um<br />
conhecimento prévio não aplicável, inclusive das limitações de seu<br />
poder sobre o <strong>trabalho</strong>. Fazer-se de bobo remete ainda à reflexão de<br />
CAMUS(s.d.) sobre o <strong>trabalho</strong> de Sísifo, onde o castigo existe quan<strong>do</strong><br />
o trabalha<strong>do</strong>r tem consciência de sua situação. Isto se relaciona à<br />
questão da alienação onde o disfarce, o esquecimento, a não<br />
consciência sobre a sua condição, sobre o seu poder levam ao menor<br />
sofrimento.<br />
O poder inexiste em duas situações - não ter o<br />
conhecimento da prática e tê-lo mas mão ter instrumentos para<br />
exercitá-lo. Quan<strong>do</strong> isto ocorre o <strong>trabalho</strong> é "duro de agüentar", pois o<br />
motorista é obriga<strong>do</strong> a suportar, a submeter-se a situações complicadas<br />
e difíceis.