abordagem psicossocial do trabalho penoso: estudo ... - Fundacentro

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Dificilmente se vê um motorista sem a sua maleta. Nela são
guardados o forro do banco, a cortina, um toco de madeira e, por vezes,
a marmita, uma lata de sardinha vazia e álcool para substituírem o
fogão, um prolongador e uma bola para a alavanca de câmbio e um
pequeno rádio. Estes são alguns dos objetos que auxiliam o motorista
a realizar o seu trabalho diário.
O ritual público ocorre no início e final da jornada de
trabalho. Ele cumpre com a finalidade de adequar as condições do
carro ao jeito de cada um, e guardam semelhanças e diferenças de um
para o outro. No início esse ritual compreende procedimentos técnicos
obrigatórios, como verificação de comandos, nível de óleo, pneus, e
outros que respondem ao objetivo de garantir a segurança para os
operadores e passageiros. Outro conjunto de procedimentos, nem
todos obrigatórios abrangem os seguintes: pendurar a sua cortina,
envolver o banco com o forro, posicionar o banco com ou sem o auxílio
de um toco de madeira ou de um pedaço de cano, testar os comandos
e o posicionamento dos espelhos, limpar o painel e o pára-brisa, testar
a campainha de solicitação de paradas. Alguns acoplam um
prolongamento e uma bola de câmbio à alavanca original, outros
instalam seus rádios, diminuem o barulho da campainha de solicitação
de paradas, e há inclusive os que diariamente lavam o piso de "seu"
ônibus.
No caso de o motorista render o carro de outro,
invariavelmente existe a troca de informações sobre as condições da
"máquina" . É geralmente nesse período que vários operadores se
encontram, trocam informações, conversam sobre assuntos diversos,
relacionados ou não ao trabalho.
Esse ajuste inicial visa propiciar maior segurança e conforto
físico e mental ao motorista. Existem características distintas de um
motorista para o outro. Apenas alguns deixam de instalar a cortina que
os isola dos passageiros. Um dos motivos para isso, conforme um
entrevistado, é não querer presenciar novamente a utilização de sua
cortina por passageiros, como lhe aconteceu, para lustrar os sapatos.