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Mortal: Livro 04 - Êxtase Mortal - Multi Download

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— Cale a boca e vá procurar a minha assistente! — ordenou-lhe Eve enquanto passava uma<br />

perna por cima da mureta de aço que circundava o terraço e se esticava devagar, até alcançar a<br />

saliência.<br />

O vento não parecia assim tão agradável quando a pessoa estava com as pernas balançando a<br />

setenta andares da rua, sentada em uma saliência de metal com apenas sessenta centímetros de<br />

largura. Ali o ar fustigava-lhe o rosto e formava redemoinhos à sua volta, ajudado pelo efeito das<br />

hélices dos helicópteros e vans aéreas. Ele batia nas roupas e chicoteava a pele. Eve ordenou a<br />

seu coração que parasse de pular descompassado e grudou as costas na parede do prédio.<br />

— Não é lindo? — suspirou Cerise. — Eu adoraria poder tomar um pouco de vinho agora; e<br />

quanto a você? Não, vinho não... Uma imensa taça de champanhe. Aquela da reserva de Roarke,<br />

safra de A7, cairia muito bem no momento.<br />

— Acho que temos uma caixa fechada em casa. Vamos até lá para abri-la.<br />

Cerise riu, virou a cabeça e tornou a dar um sorriso amplo. E foi aquele sorriso, Eve percebeu,<br />

enquanto seu coração voltava a disparar, que ela vira no rosto de um rapaz pendurado em uma<br />

forca improvisada.<br />

— Eu já estou bêbada de tanta felicidade! — explicou Cerise.<br />

— Se está tão feliz, por que está sentada nua na saliência estreita de um prédio, pensando em<br />

dar o último salto de sua vida?<br />

— Porque é isso que está me deixando feliz! Não sei como é que você não consegue<br />

compreender... — Cerise levantou o rosto para o céu e fechou os olhos. Eve se arriscou e se<br />

aproximou alguns centímetros dela. — Não sei por que ninguém consegue compreender. É tão<br />

lindo! Tão emocionante! É... é tudo!<br />

— Cerise, se você cair, não vai ser nada. Tudo vai ter acabado!<br />

— Não, não, não... — Abriu os olhos novamente, e eles estavam vidrados. — Isso é apenas o<br />

começo, não entende? Ah, todos nós somos tão cegos!<br />

— O que quer que esteja errado, pode ser consertado. Garanto que sim. — Com todo o<br />

cuidado, Eve colocou a mão no braço de Cerise. Não o apertou, pois não queria arriscar. — A<br />

sobrevivência é o que conta. Você pode modificar as coisas, pode tornálas melhor, mas tem que<br />

sobreviver para alcançar isso.<br />

— Você sabe o trabalho que isso dá? E de que adianta quando há tanto prazer logo ali, à espera<br />

de nós. Eu me sinto tão bem... Não faça isso! — rindo, Cerise apontou o spray para o rosto de<br />

Eve. — Não estrague tudo agora. Estou me divertindo à beça.<br />

— Tem gente que está muito preocupada neste instante com você, Cerise. Você tem uma<br />

família, que a ama muito. — Eve fazia força para se lembrar dela. Será que havia algum filho, um<br />

marido, pais? — Se fizer isso, Cerise, você vai magoá-los.<br />

— Só até eles compreenderem. Está chegando o tempo em que todos vão poder compreender.<br />

Tudo vai ficar melhor então. Tudo vai ser lindo! — Olhou para Eve bem nos olhos, com um ar<br />

sonhador e aquele sorriso feliz e aterrorizante nos lábios. — Venha comigo! — e agarrou a mão<br />

de Eve, com toda a força. — Vai ser maravilhoso. Tudo o que tem a fazer é se soltar...<br />

Um suor frio começou a serpentear pelas costas de Eve. A mão da mulher parecia um torno, e<br />

se Eve começasse a lutar para se soltar, poderia ser o fim de ambas. Forçou-se a não oferecer<br />

resistência, tentou ignorar o vento que rodopiava em volta dela e o zumbido das vans aéreas<br />

documentando cada movimento.<br />

— Eu não quero morrer, Cerise — disse Eve, com toda a calma. — ... E nem você. Suicídio é

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