Mortal: Livro 04 - Êxtase Mortal - Multi Download
Mortal: Livro 04 - Êxtase Mortal - Multi Download
Mortal: Livro 04 - Êxtase Mortal - Multi Download
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
vinho tinto.<br />
Afundado em uma delas estava um homem. Seu rosto bonito tinha um tom dourado pálido e<br />
estava devastado pelas lágrimas. Seus cabelos eram igualmente dourados, com o brilho de uma<br />
moeda nova, e estavam arrepiados em tufos irregulares formados pelos seus dedos em desespero.<br />
Usava um roupão branco de seda pura que estava todo respingado e manchado de sangue seco.<br />
Tinha os pés descalços e trazia as mãos cobertas de anéis que rebrilhavam enquanto os dedos<br />
tremiam. Havia ainda uma tatuagem de um cisne negro acima do tornozelo esquerdo.<br />
A policial que estava sentada ao lado do homem parecia igualmente arrasada. Olhou para Eve<br />
e tentou falar alguma coisa.<br />
Eve balançou a cabeça com rapidez, colocando o distintivo à mostra. Fez um gesto apontando<br />
para o segundo andar do apartamento, balançando a cabeça com ar questionador.<br />
A policial fez que sim com a cabeça, levantou seu polegar para cima e então balançou a<br />
cabeça.<br />
Eve saiu do aposento de fininho. Queria ver o corpo e a cena antes de lidar com a testemunha.<br />
Havia vários aposentos no segundo andar. Mesmo assim, era bem fácil achar o caminho. Foi só<br />
seguir a trilha de sangue. Eve entrou em um quarto. Ali, a decoração era toda em azul e verde, em<br />
tons pastéis, de modo a dar ao visitante a impressão de estar nadando sob as águas. A cama era<br />
um imenso retângulo de lençóis de seda azul sob pilhas de almofadas.<br />
Também havia várias estátuas de nus clássicos. Gavetas embutidas nas paredes davam ao<br />
ambiente uma aparência arrumada demais e pareceu a Eve que o quarto era pouco usado. O<br />
carpete da cor do mar era macio como uma nuvem, e estava todo manchado de sangue.<br />
Seguindo o rastro, foi até o banheiro da suíte. A morte não lhe causava choque, mas a deixava<br />
consternada, e ela sabia que sempre ia ser assim: o desperdício, a violência e a crueldade da<br />
morte a incomodavam. Só que Eve já convivera com ela por tempo demais para ficar chocada,<br />
mesmo diante de cenas como aquela.<br />
O sangue espirrara, escorrera e circulara em filetes sobre as lajotas brilhantes de marfim e<br />
verde-água. Esguichara por cima de frascos de vidro, formara pequenas poças no chão<br />
espelhado, pingando da ferida esgarçada feita no pulso que pendia agora sem vida sobre a borda<br />
de uma imensa banheira de laterais brancas.<br />
A água dentro da banheira tinha um horrível tom de rosa bem escuro, e o cheiro de metal<br />
exalado pela imensa quantidade de sangue enchia o ar. Música tocava em algum lugar. Era algo<br />
com cordas, talvez um concerto de harpa. Grossas velas brancas haviam sido acesas e ainda<br />
queimavam, tanto nos pés quanto na cabeceira da comprida banheira oval.<br />
O corpo que jazia dentro da turva água rosada tinha a cabeça recostada sobre um apoio de<br />
banheira com as bordas douradas, e seu olhar estava elevado e fixo nas abundantes folhas de uma<br />
samambaia que pendia do teto espelhado. O morto sorria, como se estivesse achando<br />
extremamente divertido assistir à própria morte.<br />
Aquilo não a deixou abalada, mas Eve soltou um longo suspiro enquanto cobria as mãos e os<br />
pés com spray selante e ligava o gravador, carregando o seu kit de trabalho para junto do corpo,<br />
onde permaneceu, em pé.<br />
Eve já o reconhecera. Nu, com o sangue já quase seco e sorrindo para o próprio reflexo estava<br />
o renomado advogado de defesa S. T. Fitzhugh.<br />
— Salvatori vai ficar muito desapontado com isso, senhor advogado — murmurou ela enquanto<br />
se lançava ao trabalho.