portugues instrumental - Universidade Federal do Pará
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Português Instrumental | O que é interpretar textos?<br />
M Á R I O DE ANDRADE<br />
Mário Raul de Moraes<br />
Andrade nasceu em São<br />
Paulo, em 9 de outubro<br />
de 1893. Diplomou-se em<br />
piano pelo Conservatório<br />
Dramático e Musical de<br />
São Paulo, tornan<strong>do</strong>-se<br />
ali professor de Estética e<br />
História da Música. Publicou<br />
seu primeiro livro, Há uma<br />
gota de sangue em cada<br />
poema, em 1917. Em 1922,<br />
participou ativamente da<br />
Semana de Arte Moderna,<br />
evento que viria a influenciar<br />
e alterar a trajetória das artes<br />
em to<strong>do</strong> o Brasil. Publicou,<br />
ainda, A escrava que não é<br />
Isaura; Paulicéia desvairada;<br />
Losango cáqui; Contos<br />
<strong>do</strong> primeiro andar; Amar,<br />
verbo intransitivo (1927);<br />
e Macunaíma (1928). Foi o<br />
autor da lei que organizou<br />
o Serviço <strong>do</strong> Patrimônio<br />
Histórico e Artístico<br />
Nacional, onde atuou à<br />
frente <strong>do</strong> tombamento <strong>do</strong>s<br />
principais monumentos e<br />
marcos históricos da cidade<br />
de São Paulo. Escreveu<br />
alguns livros sobre música,<br />
artes plásticas e literatura,<br />
dentre os quais se destacam a<br />
Pequena história da música,<br />
O baile das quatro artes<br />
e Aspectos da literatura<br />
brasilera. Estabeleceu uma<br />
vasta correspondência com os<br />
mais importantes escritores,<br />
artistas e intelectuais<br />
brasileiros de seu perío<strong>do</strong>,<br />
tais como Manuel Bandeira,<br />
Carlos Drummond de<br />
Andrade, Luís da Câmara<br />
Cascu<strong>do</strong>, Anita Malfatti,<br />
Tarsila <strong>do</strong> Amaral, entre<br />
outros. Mário de Andrade<br />
faleceu em São Paulo, em 25<br />
de fevereiro de 1945.<br />
36 CEDERJ<br />
(item “c”). É claro que não demos a você a referência <strong>do</strong> texto – seu<br />
autor, o lugar onde foi publica<strong>do</strong>, o ano etc. No entanto, queríamos<br />
que você começasse a exercitar a capacidade de inferir o momento<br />
de produção de um texto. É fundamental localizarmos um texto<br />
temporalmente para evitar julgamentos precipita<strong>do</strong>s. Temos de adequar<br />
nossas interpretações ao momento histórico de determina<strong>do</strong> texto. Do<br />
contrário, corremos o risco de analisar um texto <strong>do</strong> século XVI sob a<br />
ótica <strong>do</strong> século XXI. Não podemos esperar de um autor medieval, por<br />
exemplo, o que esperamos de um autor contemporâneo.<br />
Quanto ao tipo, ou gênero, de texto, vamos ampliar a discussão<br />
(item “d”). O próprio texto começa problematizan<strong>do</strong> a questão <strong>do</strong><br />
gênero literário. É um conto ou não é? Se for um conto, essa discussão,<br />
que é teórica, poderia estar presente nele? A teoria tem lugar na<br />
literatura? A despeito da classificação, podemos afirmar que se trata<br />
de um texto literário. Neste caso, sabemos que é um conto. Entretanto,<br />
você deve ter em mente que as fronteiras entre os diversos gêneros<br />
textuais é por demais tênue e que, muitas vezes, essas fronteiras estarão<br />
problematizadas nos próprios textos, ainda que não explicitamente.<br />
Como você já deve estar se acostuman<strong>do</strong>, adicionaremos novas<br />
informações, para darmos alguns passos à frente em nosso trabalho de<br />
interpretação e nos prepararmos para a próxima atividade. O trecho<br />
anterior foi extraí<strong>do</strong> <strong>do</strong> conto “Vestida de preto” (1939), incluí<strong>do</strong><br />
no livro Contos novos, de autoria de MÁRIO DE ANDRADE. A obra foi<br />
publicada postumamente, em 1947; ainda assim, os editores fizeram<br />
uso das indicações <strong>do</strong> autor, tanto para a seleção <strong>do</strong>s contos quanto<br />
para a ordenação deles. Vale destacar que Contos novos é um <strong>do</strong>s livros<br />
mais cuida<strong>do</strong>s por Mário, que lhe dedicou muito tempo aprimoran<strong>do</strong><br />
e amadurecen<strong>do</strong> sua linguagem, a fim de alcançar uma síntese artística<br />
mais perfeita e menos impregnada <strong>do</strong>s exageros modernistas. Mário tinha<br />
profunda preocupação em diminuir a distância entre a língua falada e<br />
a língua escrita no Brasil. Desta preocupação, podemos notar diversas<br />
conseqüências em seu estilo de narrar uma história: as marcas de oralidade,<br />
tanto no emprego <strong>do</strong> pronome oblíquo quanto na pontuação e no ritmo<br />
de encadeamento de frases e perío<strong>do</strong>s.<br />
Mário de Andrade é uma figura única na intelectualidade brasileira,<br />
entenden<strong>do</strong>-se aí o intelectual como um sujeito ativamente envolvi<strong>do</strong> com<br />
as questões de seu país, muito além da imagem que alguns podem ter<br />
<strong>do</strong> intelectual de gabinete, distante <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> <strong>do</strong>s homens, pensan<strong>do</strong><br />
coisas difíceis. Mário foi crítico de arte e publicou muitos artigos em