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portugues instrumental - Universidade Federal do Pará

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Português Instrumental | Contar uma estória, contar a história<br />

60 CEDERJ<br />

a História é uma ciência social, seu objeto é o conhecimento <strong>do</strong><br />

processo de transformação da sociedade ao longo <strong>do</strong> tempo. Da<br />

sociedade, não <strong>do</strong>s indivíduos: o fato isola<strong>do</strong>, o caso único, o<br />

episódio irrepetível, não são suscetíveis de tratamento científico<br />

– não pertencem ao <strong>do</strong>mínio da História. A base da vida em<br />

sociedade é a produção: para viver é preciso produzir; para<br />

produzir é preciso trabalhar. Os homens trabalham juntos, vivem<br />

juntos – constituem a sociedade. ‘Não podem produzir – comenta<br />

um historia<strong>do</strong>r – sem associar-se de um certo mo<strong>do</strong>, para atuar em<br />

comum e estabelecer um intercâmbio de atividades. Para produzir,<br />

os homens contraem determina<strong>do</strong>s vínculos e relações sociais e só<br />

através deles relacionam-se com a natureza e realizam a produção’.<br />

(...) As relações que se estabelecem na produção são relações sociais:<br />

constituem objeto da História. Elas definem a sociedade sob três<br />

aspectos: a forma de propriedade sobre os meios de produção, que<br />

é uma relação determinante; a situação social conseqüente, com<br />

a divisão da sociedade em classes; as formas de distribuição da<br />

produção, estabelecen<strong>do</strong> os nexos entre a produção e o consumo<br />

(SODRÉ, 1976, p. 3).<br />

Quais são as conseqüências de pensarmos a estrutura das relações<br />

sociais como determinante da produção literária? Para Werneck Sodré, as<br />

relações sociais “definem a sociedade sob três aspectos”. Como se dariam<br />

tais aspectos na produção literária? Em primeiro lugar, a propriedade<br />

sobre os meios de produção (isto é, as editoras, as tipografias, os jornais,<br />

as academias, as universidades, o saber e o <strong>do</strong>mínio sobre a língua),<br />

quan<strong>do</strong> não são propriedade direta <strong>do</strong> escritor, estão a seu serviço. Para<br />

<strong>do</strong>minar a língua e fazer literatura, dizem os especialistas, é necessário<br />

ter estuda<strong>do</strong> em bons colégios, ter ti<strong>do</strong> bons mestres, ter viaja<strong>do</strong>,<br />

conhecer línguas estrangeiras, adquirir e ler bastantes livros. Para tanto,<br />

naturalmente, é preciso dinheiro. O segun<strong>do</strong> aspecto é a conseqüente<br />

divisão da sociedade em classes, de onde podemos depreender que quem<br />

produz a Literatura (a oficial, com “L”) é o mesmo grupo que teve acesso<br />

privilegia<strong>do</strong> aos meios de produção: a classe <strong>do</strong>minante. Basta ler as<br />

histórias oficiais da Literatura Brasileira para perceber que ela, segun<strong>do</strong><br />

afirmam, se originou nas Sociedades Literárias, nas Academias, nos<br />

Clubes, nos famosos cursos de Direito da <strong>Universidade</strong> de São Paulo e<br />

<strong>do</strong> Recife; todas aquelas instituições freqüentadas pela elite. A Academia<br />

Brasileira de Letras é o modelo mais perfeito desse tipo de relação social, e<br />

protótipo da produção e <strong>do</strong> consumo de literatura: homens que se sentam

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