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portugues instrumental - Universidade Federal do Pará

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máximo <strong>do</strong>s intelectuais brasileiros à procura de um instrumento de<br />

trabalho que os aproximasse <strong>do</strong> povo. Esta noção proletária da arte, da<br />

qual nunca me afastei, foi que me levou, desde o início, às pesquisas<br />

de uma maneira de exprimir-me em brasileiro. Às vezes com sacrifício<br />

da própria obra de arte. Cito, para esclarecer, o meu romance Amar,<br />

verbo intransitivo. Não fosse a minha vontade deliberada de escrever<br />

brasileiro, imagino que teria feito um romance melhor. O assunto era<br />

bem bonzinho. O assunto porém me interessava menos que a língua,<br />

nesse livro. Outro exemplo é Macunaíma. Quis escrever um livro em<br />

to<strong>do</strong>s os linguajares regionais <strong>do</strong> Brasil. O resulta<strong>do</strong> foi que, como já<br />

disseram, me fiz incompreensível até para os brasileiros. Bem sei que<br />

minha literatura tem muito de experimental. Que me importa. Disso<br />

não me arrepen<strong>do</strong>.<br />

3. – Você anunciou, uma vez, a Gramatiquinha da língua brasileira.<br />

Por que não publicou nunca esse livro?<br />

– Da língua não. Da fala brasileira. Não tinha pretensão de criar uma<br />

língua brasileira. Nenhum escritor criou língua nenhuma. Anunciei o<br />

livro, é verdade, mas nunca o escrevi. Anunciava o livro por me parecer<br />

necessário ao movimento moderno. Para dar mais importância às<br />

coisas que queríamos defender. É ainda muito ce<strong>do</strong> pra escrever-se<br />

uma Gramática da língua brasileira. Eu queria prevenir contra os abusos<br />

<strong>do</strong> escrever erra<strong>do</strong>. Estávamos cain<strong>do</strong> no excesso contrário, como<br />

muito bem observou um <strong>do</strong>s redatores de Estética, não me lembro se<br />

Sérgio Buarque de Holanda ou Prudente de Morais, neto. Estávamos<br />

crian<strong>do</strong> o ‘erro de brasileiro’. Quan<strong>do</strong> falo em escrever certo, esten<strong>do</strong><br />

a questão até o ponto ortográfico. Considero um problema de ordem<br />

moral. É mais uma responsabilidade que se acrescenta ao ofício de<br />

escrever. Não me interessa discutir se esta ou aquela é a ortografia que<br />

presta ou não. O essencial é termos uma ortografia. Que se mande<br />

escrever ‘cavalo’ com três ‘l’ isso não tem importância. Precisamos<br />

é acabar com a bagunça. Não há coisa mais irritantemente falsa <strong>do</strong><br />

que a ortografia inglesa, por exemplo. Não compreen<strong>do</strong> por que a<br />

palavra ‘right’ se escreve com ‘g-h-t’. No entanto assim é que está certo.<br />

Escrever de outra forma na Inglaterra ou nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s é diploma<br />

de ignorância. Aqui, não. To<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> escreve como bem entende.<br />

O Esta<strong>do</strong> da Bahia tem ‘h’. A baía de Guanabara não tem. Acredito que<br />

a questão ortográfica tem contribuí<strong>do</strong> muitíssimo para a desordem<br />

mental <strong>do</strong> Brasil. E de certa forma tem impedi<strong>do</strong> a muito escritor de<br />

formar uma verdadeira consciência profissional.<br />

Mecenas: Segun<strong>do</strong> o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, mecenas<br />

quer dizer “indivíduo rico que protege artistas, homens de letras ou<br />

de ciências, proporcionan<strong>do</strong> recursos financeiros, ou que patrocina, de<br />

mo<strong>do</strong> geral, um campo <strong>do</strong> saber ou das artes; patrocina<strong>do</strong>r”.<br />

CEDERJ 39<br />

AULA 2<br />

MÓDULO 1

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