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portugues instrumental - Universidade Federal do Pará

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vitais também podem causar “novas conjunturas”. Pense no fato de você<br />

estar cursan<strong>do</strong> uma faculdade. Essa situação demanda de você outras<br />

posições subjetivas e objetivas (que não sabemos quais são) e, portanto,<br />

terá de responder a ela com outros recursos.<br />

Digressões à parte, voltemos às epístolas. A carta, em si mesma,<br />

pareceu a muitos escritores um meio fértil para a atividade criativa e<br />

literária. Por quê? Além de ser um meio cuja complexidade confere ao<br />

escritor múltiplas posições enunciativas (o que, linhas atrás, chamamos de<br />

posições subjetivas), a carta não está presa a regras que ajudam a definir<br />

os gêneros literários. Não que o romance, a poesia, o conto, a novela<br />

ou o drama estejam aprisiona<strong>do</strong>s em formas estáticas de organização<br />

<strong>do</strong> discurso. O conceito de “gênero discursivo”, aliás, está a serviço <strong>do</strong>s<br />

lingüistas, <strong>do</strong>s teóricos da literatura, <strong>do</strong>s críticos literários – os escritores<br />

nada ou pouco devem àquela definição (digamos, por exemplo, que<br />

romances eram escritos muito antes da definição de gênero).<br />

No prefácio à tradução brasileira de Os sofrimentos <strong>do</strong> jovem<br />

Werther, Joseph-François Angelloz escreve:<br />

A carta se presta tanto ao relato quanto o romance, e tanto à<br />

explosão lírica quanto a poesia. Aliás, certas cartas são verdadeiros<br />

poemas em prosa. A carta não está ligada ao tempo da narrativa<br />

épica, que é o passa<strong>do</strong>, ou ao presente, que é o tempo <strong>do</strong> lirismo.<br />

Ela pode falar igualmente de coisas passadas ou presentes, como<br />

também de acontecimentos pessoais ou alheios. Ela não tem por<br />

condição a distância temporal, que se impõe numa crônica, nem<br />

a ausência de distância, que permite a expressão poética. O que<br />

importa é uma distância espacial, o afastamento <strong>do</strong> amigo, que cria<br />

entre os <strong>do</strong>is correspondentes uma tensão comparável à <strong>do</strong> teatro; o<br />

amigo fictício que aceita ler a carta é o confessor que se necessita.<br />

A citação anterior vai ao encontro <strong>do</strong> título que demos a esta<br />

parte da aula: “A poética da carta”. Entenda-se, entretanto, a palavra<br />

poética como o mo<strong>do</strong> de estruturação de uma linguagem literária. Nesse<br />

senti<strong>do</strong>, não somente os poetas e seus poemas elaboram uma poética,<br />

mas, também, os romancistas, contistas, dramaturgos, epistológrafos e<br />

prosa<strong>do</strong>res em geral. Podemos, assim, falar na poética de um Macha<strong>do</strong><br />

de Assis, de um João <strong>do</strong> Rio, de um Guimarães Rosa ou de um Mário<br />

de Andrade. Podemos, ousa<strong>do</strong>s que somos, apostar na estruturação da<br />

sua poética.<br />

CEDERJ 93<br />

AULA 6<br />

MÓDULO 1

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