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(Millôr no JB 01)<br />
Via eleições indiretas, Tancredo Neves era eleito presidente e sente-se mal<br />
numa cerimônia religiosa pouco antes da posse. É levado a um hospital de Brasília<br />
e, como seu estado de saúde piorava a cada dia, transferem-no para um centro de<br />
excelência em São Paulo.Todos, boquiabertos, aguardam as notícias que chegam,<br />
às várias, todo dia. Até que uma foto, tendo Tancredo e Risoleta ladeados pelos<br />
médicos que dele agora cuidavam, surgiu em toda imprensa: todos sentados num<br />
semicírculo, o presidente mantinha os lábios erguidos em forma de sorriso enquanto<br />
os outros riam abertamente.<br />
Calcado na fotografia que se tornara o retrato da própria esperança desejada,<br />
Millõr produz um desenho, uma charge, e a envia ao JB que, prontamente recusa<br />
sua aparição nas páginas do jornal. Ali estava um possível Humor negro, já que,<br />
exceto o branco do sorriso, todas as figuras assumem exatamente essa cor; no lugar<br />
em que Tancredo deveria constar, o inteiro branco revela sua absoluta ausência e a<br />
farsa da composição.<br />
Tempos depois, a participação de Millõr no JB aparece em forma de livro e,<br />
na breve e densa introdução, Fernando Pedreira — então redator-chefe do jornal —<br />
praticamente se atém a este fato de censura: “há um desenho dele que não<br />
chegamos a publicar porque nos pareceu [...] cruel demais, mas que certamente<br />
merece ser reproduzido aqui porque era e é na verdade perfeito, exato,<br />
impiedosamente verdadeiro.” (PEDREIRA,1985:s.n.p.)<br />
Aqui está — como iria ser publicado num quadrado de meia página e sem<br />
nenhuma legenda — resgatado numa página inteira<br />
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