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ANUNCIATA E SEU HUMOR - CES/JF

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inovações costumam ser recebidas com uma mistura de indignação e riso<br />

cômico (MORAES, 1974, p.30).<br />

Não se pode deixar de notar que Freud atribui aos chistes um mecanismo<br />

altamente complexo, onde todos os elementos exigem especial acuidade e<br />

perspicácia e ao Humor confere uma especial estatura. Nada disso se encontra em<br />

sua análise do riso cômico; ali só há explícito constrangimento pelo dever de abordar<br />

tal assunto, dado o fato inequívoco de que este participava de sua exposição sobre<br />

a função do riso como expressão do eminentemente humano.<br />

Ele conhecia esse aspecto pouco agradável do cômico. Desde Bergson.<br />

O que a vida e a sociedade exigem de cada um de nós é certa atenção<br />

constantemente desperta, que vislumbre os contornos da situação presente,<br />

e também certa elasticidade de corpo e de espírito, que permitam adaptarnos<br />

a ela [...]. Contudo, a sociedade exige algo mais ainda.. Não basta viver;<br />

importa viver bem. Agora o que ela tem a temer é que cada um de nós,<br />

satisfeito em atentar para o que respeita ao essencial da vida, se deixe ir<br />

quanto ao mais pelo automatismo fácil dos hábitos adquiridos. O que<br />

também deve recear é que os membros de que ela se compõe, em vez de<br />

terem por alvo um equilíbrio cada vez mais delicado de vontades a inserir-se<br />

cada vez com maior exatidão umas nas outras, se contentem com o<br />

respeitar as condições fundamentais desse equilíbrio: um acordo prévio<br />

entre as pessoas não lhe basta, mas a sociedade há de querer um esforço<br />

constante de adaptação recíproca. Toda rigidez do caráter, do espírito e<br />

mesmo do corpo, será, pois suspeita à sociedade, por constituir indício<br />

possível de uma atividade que adormece, e também de uma atividade que<br />

se isola, tendendo a se afastar do centro comum em torno do qual a<br />

sociedade gravita; em suma, indício de uma excentricidade. E, no entanto, a<br />

sociedade não pode intervir no caso por uma repressão material, dado que<br />

não é atingida de modo material. Ela está diante de algo que a inquieta, mas<br />

título de sintomas apenas — simplesmente ameaça, no máximo um gesto.<br />

E, portanto, por um simples gesto ela reagirá. O riso deve ser algo desse<br />

gênero: uma espécie de gesto social. Pelo temor que o riso inspira, reprime<br />

as excentricidades, mantém constantemente despertas e em contato mútuo<br />

certas atividades de ordem acessória que correriam o risco de isolar-se e<br />

adormecer; suaviza, enfim, tudo o que puder restar de rigidez mecânica na<br />

superfície do corpo social (1980, p.18-19).<br />

Enfim, se há “certa rigidez do corpo, do espírito e do caráter [...], essa rigidez<br />

é o cômico, e a correção dela é o riso” (IBIDEM, p.19).<br />

Nota-se que esta perspectiva pedagógica (no pior sentido) é visceralmente o<br />

avesso do percurso de Freud ao longo de toda a sua obra. De fato, como ele fez<br />

questão de declarar, “nem sua formação nem sua ocupação diária justificam a<br />

extensão de sua investigação [...]” (OC,239) ao território do cômico, mas como este<br />

não poderia ser excluído da pauta de um estudo sobre o riso, ele prossegue,<br />

penosamente, a contragosto.<br />

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