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lugar junto ao bebê sustenta o paradoxo de ser fruto de criação e dado pronto desde<br />
sempre.<br />
Atravessando essa área eu - não eu atinge-se, gradualmente, a separação<br />
eu / não-eu, mas isto apenas através da construção do outro como não-eu. Esta<br />
construção só pode advir através da agressão e seus procedimentos e realizações.<br />
A agressão, segundo Winnicott, é sinônimo de atividade e motilidade. No<br />
princípio de sua investigação sobre o tema ele estabelece a noção de agressão<br />
primária, situando-a como parte integrante do apetite (Cf.1978, p.356) e também da<br />
personalidade que se constrói agindo como uma energia proveitosa relacionada ao<br />
trabalho e ao brincar. Adverte, entretanto, que em um ambiente de privação<br />
contumaz ela poderia se tornar carregada de violência e destruição. Esse aspecto,<br />
portanto, não passava de mera conseqüência de um muito inadequado modo de<br />
lidar com esse fator fundamental. Tal concepção é inaugural e única no trajeto da<br />
pesquisa psicanalítica até hoje.<br />
A primeira referência feita por Winnicott à agressividade no contexto das<br />
relações humanas encontra-se em um trabalho de 1939, intitulado simplesmente<br />
Agressão, numa conferência dirigida a pedagogos. Suas opiniões fundamentais no<br />
que concerne ao tema nunca se modificaram essencialmente desde tal ensaio, mas<br />
foram enriquecidas e elaboradas com o decorrer de suas investigações.<br />
Nesse texto de 1939, apesar de concentrar-se na experiência do bebê com<br />
sua própria agressão, Winnicott prossegue explorando a fantasia de destruição<br />
contida na agressão primária, bem como a inibição do desejo verdadeiro de destruir.<br />
Isto é o que introduz a diferenciação, elaborada por ele, entre a destruição que<br />
ocorre na fantasia e a que é atuada ( efetivada ). Essa noção é central na teoria do<br />
uso do objeto de Winnicott, aparecida em 1968:<br />
Se é verdade... que o bebê tem uma grande capacidade para a destruição,<br />
não é menos verdadeiro que ele também tem uma grande capacidade para<br />
proteger o que ama de sua própria destrutividade, e a principal destruição<br />
existe sempre, necessariamente em sua fantasia. E, quanto a essa<br />
agressividade instintiva, é importante assinalar que, embora se torne em<br />
breve algo que pode ser mobilizado a serviço do ódio, é originalmente uma<br />
parte do apetite, ou de alguma outra forma de amor instintivo. É algo que<br />
recrudesce durante a excitação e seu exercício é sumamente agradável<br />
(WINNICOTT, 1999, p.97).<br />
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