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ANUNCIATA E SEU HUMOR - CES/JF

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Embora as três arquiteturas do riso se componham com algum teor de<br />

agressividade, no Humor — grafado assim, com maiúscula, devido à específica e<br />

especial posição que Freud lhe confere — este elemento adquire extrema<br />

importância, dada não só por seu caráter imprescindível como também pelo<br />

específico contexto que toma como alvo: a realidade opressiva e constrangedora.<br />

Vista por este ângulo, esta agressividade se reveste de uma função eminentemente<br />

transformadora, se comporta como ultrapassagem dos contornos estabelecidos. E<br />

convoca uma teoria própria, onde se apresente exatamente com tais feições.<br />

Este é o lugar de Winnicott, a quem se dedica a segunda parte do trabalho.<br />

Ao enveredar, cada vez mais profundamente, pelo papel representado pela<br />

agressividade na construção do sujeito humano em suas relações com o ambiente<br />

(com o outro), Donald Winnicott abre um horizonte insuspeitado. Antes, toda<br />

potência agressiva já trazia em seu bojo uma destrutividade imperiosa, e depois dele<br />

esse procedimento se torna um último recurso no processo de ultrapassagem, este<br />

sim o verdadeiro sentido das experimentações agressivas.<br />

Winnicott, ao aproximar intrinsecamente criatividade e agressividade, confere<br />

a esta última um valor absolutamente distinto daquele que, na maioria das vezes, lhe<br />

era atribuído. Esta concepção é fundamental para reconhecer seu papel no<br />

engendramento do riso que deriva do Humor.<br />

Por fim, e numa terceira parte, passa-se a tratar propriamente do Humor de<br />

Millôr Fernandes e, mais uma vez, a questão da escolha se apresenta como<br />

dificuldade. É que sua produção é não só volumosa como dispersa em revistas,<br />

jornais e livros — estes, muitas vezes, há muito não reeditados —, além do feitio<br />

múltiplo que vai de charges a poemas e hai-kais e peças de teatro e artigos e<br />

fábulas. Optou-se por estas, por algumas devidas razões que serão apresentadas e<br />

justificadas logo antes de iniciar-se a abordagem das mesmas.<br />

Esta custosa delimitação do material não aboliu todos os incômodos, uma vez<br />

que as fábulas de Millôr são numerosas e uma restrição a mais não poderia ser<br />

evitada. Esta foi a complicação mais difícil de contornar. De opção em opção,<br />

chegou-se ao seguinte critério: primeiro apresentar as fábulas de Millôr que são<br />

correspondentes às do mais conhecido e divulgado dos fabulistas: La Fontaine<br />

(sendo ele mesmo alguém que dialogou com seus principais antecessores);<br />

segundo, aquelas que representam os temas mais caros e recorrentes em Millôr;<br />

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