You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
há Humor sem independência. Aliás, o Humor se constrói como irrevogável<br />
afirmação desta (Cf.IBIDEM, p.164).<br />
Eis onde as fábulas millôrianas, uma das plurais formas de manifestar-se,<br />
encontram sua particular perspicácia. Alguns outros exemplos encontram-se logo<br />
adiante.<br />
4.4 FÁBULAS FABULOSAS E UM POUCO MAIS ALÉM<br />
O Humor se produz como revolta contra as restrições da realidade. Mas não<br />
se pode, indefinidamente, brincar assim com as palavras, pelo gosto dos sons, pois<br />
é imperativo se inscrever no mundo humano, ingressar na Cultura e na Língua, que<br />
é sua súmula (Cf. CÂMARA JÚNIOR, 1969, 22). O puro jogo verbal, e o prazer que<br />
dele deriva desde a infância, é abandonado em favor dos supostos rigores do<br />
sentido.<br />
Mas se a realidade impõe, o Humor a enfrenta e confronta. E depõe, quando<br />
se trata de demonstrar (inclusive sem lógicas de beca) mais e mais possibilidades<br />
— revigorando até as quase esquecidas:<br />
Eu e meu irmão Hélio (sem contar amigos, naturalmente do mesmo tipo de<br />
interesse) gostávamos de introduzir nas conversas toda espécie de jogo de<br />
palavras, trocadilho, nonsense, totais bestialógicos que deixavam os não<br />
iniciados perplexos. Acho que não existe uma espécie de experiência com<br />
palavras, da língua do pê ao último efeito de ressonância, que não<br />
tenhamos usado. [...] Fopos de Esábula é um dos resultados dessas antigas<br />
experiências lúdicas (FERNANDES, 1974b, p.234).<br />
A primeira dessas travessuras surge em 1961, na revista O Cruzeiro (Cf.<br />
IBIDEM, 98), pouco mais tarde publicada, em livro, nas Fábulas fabulosas de 1963.<br />
Constitui, como se vê, uma revogação da lei, já apontada por Freud, que impedia a<br />
permanência do jogo puro e simples de palavras para além da primeira infância e,<br />
ao mesmo tempo, uma utilização da regra segundo a qual os personagens da fábula<br />
deveriam ser, apenas, animais. Ironiza-se, portanto, uma autoridade (abstrata)<br />
servindo-se da subserviência absoluta a outra ( historicamente concreta ), enquanto<br />
ridiculariza as duas. Vamos , então, ao jogo:<br />
FOPOS DE ESÁBULA<br />
86