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Winnicott é um teórico da perplexidade, o que, de alguma maneira, significa<br />
que rejeita as facilidades do óbvio. Daí suas querelas com Klein, que gostava de<br />
postular o inatismo de processos altamente complexos, como a inveja e a<br />
agressividade destrutiva, por exemplo. Para ele tudo era uma conquista que custava<br />
muitos investimentos e a superação de vários obstáculos. Portanto, viver e sentir-se<br />
vivo, que seriam atributos óbvios do ser humano factualmente “vivo”, na sua<br />
concepção não era um fato garantido por esta simples condição e, sim, constituía-se<br />
numa questão extremamente complexa. É nesta questão que se insere o problema<br />
da criatividade e sua essencial correlação com a agressividade. “Em consequência,<br />
a criatividade é o fazer que, gerado a partir do ser, indica que aquele que é está<br />
vivo" (WINNICOTT,1989, p.31).<br />
Devemos aqui estabelecer um fundamento: "a criatividade é, portanto, a<br />
manutenção através da vida de algo que pertence à experiência infantil: a<br />
capacidade de criar o mundo" (IBIDEM, p.32).<br />
Dentro desta perspectiva,<br />
o bebê normal [...] precisa crescer em complexidade e tornar-se um<br />
'existente' estabelecido, para que possa experimentar a procura e o<br />
encontro de um objeto como um ato criativo.<br />
E então eu volto à máxima: Ser, antes de Fazer. O Ser tem que se<br />
desenvolver antes do Fazer [...]. A origem, portanto, é a tendência [...] do<br />
indivíduo para estar e permanecer vivo e para se relacionar com os objetos<br />
que lhe surgem no caminho durante os momentos de obter algo [...]<br />
(IBIDEM, p.33).<br />
Essa capacidade de tornar criativa a vida e, consequentemente, a capacidade<br />
de sentir-se efetivamente vivo na relação com o mundo, pressupõe que o sujeito<br />
tenha tido a oportunidade de viver a experiência de onipotência — onde o mundo<br />
era criado por ele — e, gradativamente, se afastar dela pela via de um espaço<br />
potencial onde o criado e o existente coincidem sem que haja qualquer possibilidade<br />
ou necessidade de distinguí-los, e de tal forma que o subjetivo e o objetivo<br />
encontram aí um campo fértil onde um e outro traçam e somam suas condições<br />
peculiares sem, contudo, se deixarem apreender numa definição definitiva de qual<br />
está contribuindo com o quê.<br />
No espaço transicional (potencial) o processo de separação eu-não eu<br />
encontra um lugar de indistinção distintiva, de tal forma que o objeto que ocupa este<br />
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