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que a presença de um receptor só se faz necessária quando a primeira barreira<br />
crítica se ergue, ou seja, no estágio do gracejo:<br />
O chiste, no estágio inicial, enquanto jogo com as palavras e pensamentos,<br />
prescinde de uma pessoa como objeto. Mas já no estágio preliminar de<br />
gracejo [...] requer uma outra pessoa a quem se possa comunicar o<br />
resultado [...]. É como se, no caso do gracejo, a outra pessoa transmitisse a<br />
avaliação da tarefa de elaboração do chiste - como se o eu não se sentisse,<br />
nesse ponto, seguro de seu julgamento. Também os chistes inocentes [...]<br />
requerem uma outra pessoa para provar se acaso alcançaram seu objetivo<br />
(OC, p.168).<br />
Parece que a força inibitória foi parcialmente suspensa no processo de<br />
elaboração do chiste, caso contrário o próprio chiste não viria à tona, contudo, a<br />
ausência do riso no produtor-emissor demonstra que alguma cota de inibição<br />
persiste. Claro está que, à pessoa do ouvinte, cabe a função de julgamento. Ela<br />
assume as funções da instância critica. Sua aprovação ou condescendência é que<br />
consolida a suspensão das barreiras no interior do artífice do chiste. Nota-se, em<br />
virtude disso, que os obstáculos à consumação dos propósitos do chiste não foram<br />
integralmente superados pela estratégia de sua construção. No entanto, o processo<br />
avança apesar desse empecilho adicional: o chiste – ou, melhor dizendo, os<br />
interesses a que serve - não se submete passivamente ao julgamento do receptor,<br />
antes tenta controlá-lo e conduzi-lo. Esse projeto realiza-se por duas vias:<br />
— escolha da pessoa apropriada ao papel de ouvinte. "Ela deve estar em um<br />
estado de ânimo eufórico ou, ao menos, indiferente" (OC, p.168);<br />
— distração da atenção do receptor.<br />
A questão da indiferença é crucial. Freud acuradamente observa que a<br />
terceira pessoa (ouvinte) não ri de um chiste quando seu alvo (segunda pessoa)<br />
coincide com alguém que ela preza o suficiente para não desejar vê-la exposta ao<br />
ridículo. Nesse caso, a reação do ouvinte-receptor é, quase sempre, a declarada<br />
indignação.<br />
Algum grau de benevolência ou uma espécie de neutralidade, uma ausência<br />
de qualquer fator que pudesse provocar sentimentos opostos aos propósitos<br />
do chiste, constituem a condição indispensável para que uma terceira<br />
pessoa colabore na complementação do processo de realização do chiste<br />
(OC, p.169).<br />
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