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ANUNCIATA E SEU HUMOR - CES/JF

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Há em Bergson um elemento teórico fundamental quando se trata da questão<br />

do riso cômico, encontrável ao longo de seus três artigos, e que se expressa de<br />

formas equivalentes como “certo efeito de rigidez [...]” (BERGSON, 1980, p.14),<br />

“certa rigidez mecânica [...]” (IBIDEM, p.15), “certo efeito de automatismo e rigidez”<br />

(IBIDEM, p.18), “essa rigidez é o cômico, e a correção dela é o riso” (IBIDEM, p.19),<br />

“atitudes, gestos e movimentos do corpo são risíveis na exata medida em que esse<br />

corpo nos leva a pensar num simples mecanismo”. (IBIDEM, p.23), e por aí insiste.<br />

Chega, enfim, a propor uma comicidade de palavras para além das repetições<br />

contumazes de certas expressôes ou frases e suas respectivas inflexôes (que hoje<br />

atendem aqui pelo nome de bordões, largamente utilizados pelos esquemas<br />

cômicos televisivos ) migrando para o campo próprio dos ditos espirituosos, onde<br />

assegura que, a partir de sua consistente análise, “o espirituoso [...] surgirá então<br />

como sendo apenas o cômico volatizado” (IBIDEM,p.60).<br />

Nesse sentido, sua argumentação não deixa qualquer dúvida quanto à intenção de<br />

de fazer equivaler toda forma de riso ao formato cômico por ele delineado:<br />

De fato, por um lado, vemos que não existe diferença essencial entre uma<br />

expressão cômica e uma frase de espírito, e por outro lado a frase de<br />

espírito, embora ligada a uma certa figura de linguagem, evoca a imagem<br />

confusa ou nítida de uma cena cômica. Isso equivale a dizer que a<br />

comicidade da linguagem deve corresponder, ponto por ponto, à comicidade<br />

das ações e das situações e que ela não passa da projeção delas no plano<br />

das palavras, se podemos nos exprimir assim (IBIDEM,p.60-61)<br />

Bergson, portanto, não considera que o riso proveniente de um hábil jogo<br />

linguageiro necessite que o ouvinte ou ouvintes percebam o não dito por detrás do<br />

dito. Contudo, não é a mecânica que faz rir, é a fluidez da sutileza, a dinâmica plena,<br />

a conotação e não a denotação. É a expressão de um outro pensamento que subjaz<br />

à aparente e singela correlação pensamento — expressão do pensado. O chiste<br />

exige agudeza e perspicácia, movimento rápido entre as possíveis significações.<br />

Qualquer rigidez ou tolice lhe é fatal.<br />

Além disso, como se viu, os chistes têm para Freud uma arquitetura triádica<br />

enquanto o cômico, como se verá mais e mais, é simplesmente dual. “O prazer do<br />

cômico surge de uma comparação mais ou menos consciente entre a perfeição do<br />

espectador e a imperfeição da outra pessoa”. (MORAES, 1974, 29).<br />

Para Bergson, o riso e o cômico, ao fim das contas, formam uma unidade,<br />

unem-se intrinsecamente. Para Freud, o cômico está extremamente longe de ser a<br />

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