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Quando inicia sua discussão sobre o caráter do Humor, Sigmund Freud faz<br />
questão de retomar um dos pilares do cômico — tornando-o mais claro, explícito e<br />
generalizado — para melhor distingui-lo do propriamente Humorístico:<br />
Já vimos que a liberação de afetos aflitivos é o maior obstáculo à<br />
emergência do cômico. Tão logo o movimento inútil produza um dano, ou a<br />
estupidez leve à maldade, ou o desapontamento cause dor, a possibilidade<br />
de um efeito cômico chega ao fim [...]. Ora, o humor é um meio de obter<br />
prazer apesar dos afetos dolorosos que interferem com ele; atua como um<br />
substituto para geração desses afetos, coloca-se no lugar deles. As<br />
condições para seu aparecimento são fornecidas se existe uma situação na<br />
qual, de acordo com nossos hábitos usuais, devíamos ser tentados a liberar<br />
um afeto penoso [...]. O prazer do humor, se existe, revela-se [...] ao custo<br />
de uma liberação de afeto que não ocorre: procede de uma economia da<br />
despesa de afeto (OC, p. 257).<br />
Em vez de dor, riso; ao invés de sofrimento, prazer, digamos assim,<br />
arrogante, de enfrentamento. Na verdade, “a economia de compaixão é uma das<br />
mais freqüentes fontes do prazer humorístico” (OC, p. 259).<br />
Por outro lado, se a composição do chiste é triádica (produtor – objeto –<br />
espectador/ouvinte) e a do cômico é dual (comparação entre espectador e produtor,<br />
estando este numa posição degradante), o Humor “completa seu curso de uma<br />
única pessoa; a participação de alguma outra nada lhe acrescenta. Posso guardar a<br />
fruição do prazer humorístico que em mim se originou sem sentir obrigação de<br />
comunicá-lo” (OC, p.257).<br />
Este aspecto não serve apenas para distinguir o Humor das outras<br />
arquiteturas do riso, ao localizá-lo tão somente no produtor, mas revela o sua<br />
essência, pois “o próprio humor [...] origina-se da superioridade de um ego do qual<br />
nem os defeitos físicos nem os morais conseguem roubar a segurança e a alegria”<br />
(OC, p.260, n.1).<br />
É claro que os chistes e várias espécies de cômico podem se revestir de<br />
Humor, “neste caso, sua tarefa é livrar-se de uma possibilidade implícita na situação:<br />
que possa ser gerado um afeto que interfira com o resultado gratificante” (OC,<br />
p.261).<br />
Envolvendo três ou dois participantes, o chiste e o cômico, respectivamente,<br />
necessitam da precisa afinação empática entre os componentes para que surja o<br />
efeito prazeroso sob a forma de riso. Não custa repetir que qualquer falha nesta<br />
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