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ANUNCIATA E SEU HUMOR - CES/JF

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importância muito relativa às demais manifestações do pensamento” ( WILDE, 1995,<br />

p.34 ). Oscar Wilde tem uma posição bastante próxima à de Winnicott quando<br />

declara, além disso, que “ o verdadeiro artista não dá a menor importância ao<br />

público. Para ele, o público não existe.” (IBIDEM, 1995, 35 ). Este é, precisamente, o<br />

cerne do self cruel do artista, ou seja, algo situado além da piedade, da culpa e do<br />

horizonte de expectativas.<br />

Um pouco mais adiante, quando lhe for dada a palavra, Millôr Fernandes<br />

concordará prontamente com ambos.<br />

3.4 CRUELDADE E CRIATIVIDADE<br />

Em maio de 1960, numa conferência sobre “Agressão, culpa e reparação”,<br />

Winnicott insiste na exploração do vínculo entre crueldade e criatividade.<br />

Desejo apoiar-me na minha experiência como psicanalista para descrever<br />

um tema que se apresenta repetidamente no trabalho analítico e é sempre<br />

de grande importância. Relaciona-se com as raízes da atividade<br />

construtiva. Tem a ver com as relações entre construção e destruição<br />

(WINNICOTT,1999, p.153 ).<br />

Não se pode, portanto, pensar a criatividade sem vinculá-la a seu componente<br />

agressivo, à motilidade, à capacidade de vencer obstáculos. O aspecto agressivo,<br />

neste caso, ganha sua maior importância conforme a resposta do objeto: se ele<br />

sobrevive ou não às investidas testadoras da agressividade. “A ‘agressão primária’<br />

e a ‘crueldade’ são os diferentes aspectos de um tipo de destrutividade primária<br />

que, no caso de objeto/ambiente sobreviverem a ela, tornará o sujeito capaz de<br />

encarar o mundo real da forma com que ele realmente se apresenta” (ABRAM,<br />

2000, p.18).<br />

Esse aspecto vital, que torna o sujeito capaz de agir-no-mundo como um<br />

ente-efetivamente-vivo é um ponto central, em torno do qual giram os outros<br />

aspectos da questão. Nos “Comentários sobre meu artigo O Uso de um Objeto” ele<br />

diz: “ nesse estágio inicial vitalmente importante, a qualidade viva ‘destrutiva’ [...] do<br />

indivíduo é simplesmente um sintoma de estar vivo, e nada tem a ver com a raiva<br />

desse indivíduo com as frustrações que pertencem ao encontro do princípio da<br />

realidade” (WINNICOTT, 1994, p.186 ).<br />

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