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O objeto que sobrevive à destruição desenvolve autonomia e vida própria e<br />
pode, assim, contribuir para a constituição do sujeito conforme suas propriedades<br />
intrínsecas (Cf. IBIDEM, p.174).<br />
Neste aspecto, a teoria de Winnicott é radicalmente inovadora. Segundo ele<br />
mesmo aponta, “a teoria ortodoxa abraça a suposição de que a agressão é relativa<br />
ao encontro com o princípio da realidade, enquanto que aqui é a pulsão destrutiva<br />
que cria a qualidade de externalidade. Isto é fundamental em minha argumentação”<br />
(IBIDEM, p.176 ).<br />
De fato, a pesquisa psicanalítica costuma colocar o mundo externo e suas<br />
imposições de limite como os geradores de reações agressivas por parte do sujeito,<br />
nem sempre apto a aceitá-las; Winnicott, por outro lado, propõe a agressividade<br />
como constitutiva da noção de mundo externo, garantido como tal por sua<br />
sobrevivência às investidas experimentais deste mesmo sujeito. Num contexto, a<br />
agressividade é secundária; no outro, primária.<br />
Winnicott desce, nesta contraposição, a detalhes que se revelam cruciais:<br />
É parte importante daquilo que uma mãe faz: ser a primeira pessoa a<br />
conduzir o bebê através desta primeira versão, das muitas que serão<br />
encontradas, de ataque ao qual se sobrevive. Este é o momento certo no<br />
desenvolvimento da criança, por causa da sua relativa debilidade, de<br />
maneira que se pode com bastante facilidade sobreviver à destruição.<br />
Mesmo assim, contudo, trata-se de algo delicado, pois é muito fácil para<br />
uma mãe reagir de modo moralístico quando o seu bebê morde ou<br />
machuca. Mas esta linguagem que envolve ‘o seio’ é jargão profissional.<br />
Toda a área de desenvolvimento e manejo, na qual a adaptação está<br />
relacionada à dependência acha-se envolvida (IBIDEM, p.176 ). 6<br />
Vale sempre ressaltar que uma das principais dificuldades do texto<br />
winnicottiano advém do seu estilo, e nele e dele constam o uso contumaz do<br />
paradoxo além do aproveitamento de termos corriqueiros para estabelecer novos<br />
conceitos, quando estes não se aliam a outros muito específicos para a invenção de<br />
inusitadas expressões aparentemente simples que anunciam e enunciam, de fato,<br />
complexas formulações teóricas. No presente caso, podemos remeter o termo<br />
destruição, muito utilizado por Winnicott, ao menos carregado agressão ou<br />
6 Em “Objetos transicionais e fenômenos transicionais” , Winnicott estabelece que o termo ‘seio’ se refere a<br />
toda a maternagem. Cf. WINNICOTT, 1978, 408, nota 10 (ver, também, p. 402) .<br />
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