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não os aqui propostos e apresentados, encontram-se em suas (felizmente)<br />
numerosas fábulas; basta ir ao cardápio e saboreá-las e, com isto, algo será<br />
acompanhado com não poucas pitadas de tempero amargo. Mas, enfim, é disso<br />
mesmo que se trata.<br />
CONCLUSÃO<br />
Ao mostrar, como o faz, a comédia de erros dos saberes bem estabelecidos,<br />
o Humorista — como faz questão de se declarar — Millôr Fernandes, não poupa<br />
nada e nem ninguém, demonstrando, com isso, a essência do próprio Humor. Tal<br />
essência, já descrita por Freud, há cerca de cem anos, envolve uma rebeldia, e a<br />
agressividade que a alimenta, com fim declarado: o enfrentamento e a<br />
ultrapassagem das imposições restritivas e freqüentemente obtusas de uma<br />
realidade arraigada em premissas que nada mais fazem que impedir o<br />
pronunciamento e o exercício de opções verdadeiramente criativas.<br />
O Humor engendrado por Millôr Fernandes serve-se de múltiplos artifícios<br />
para atingir seus objetivos. Pode brincar com as palavras, escarnecer das sisudezas<br />
gramaticais, apontar falácias, desnudar mentiras ricamente vestidas de pomposos<br />
argumentos ou escudadas em autoridades a serviço do autoritarismo, reverter as<br />
regras em diversos âmbitos ou instâncias, atordoar e despertar ao mesmo tempo.<br />
Alguns se servem da lógica para melhor evidenciar a tolice de certas<br />
conclusões aparentemente bem embasadas a princípio; outros da rápida bofetada<br />
que arranca maquiagens demoradamente compostas; outros ainda do punhal que só<br />
se sente quando retirado, pelo rastro que fica. Todos os artifícios do Humor, em<br />
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