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ANUNCIATA E SEU HUMOR - CES/JF

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Após a publicação de A interpretação dos sonhos uma nova surpresa o<br />

aguarda. Um jovem psiquiatra de Zurique — Carl Gustav Jung —, que se interessara<br />

profundamente pelo livro e vinha mantendo constantes contatos com Freud, chama<br />

sua atenção para uma novela, editada em 1903, de Wilhelm Jensen onde a<br />

personagem central aparece às voltas com sonhos que se mostram perfeitos<br />

representantes da arquitetura que Freud lhes atribuiu. Interessado e preso à certeza<br />

de que Jensen se servira de sua obra sobre os sonhos para compor as expressões<br />

oníricas ali descritas, Freud leu atentamente a pequena novela e escreveu sobre ela.<br />

Chegou a propor um encontro com Jensen e só então soube que ele sequer o<br />

conhecia, nem jamais havia lido o que escrevera.<br />

Então alguém escrevera um sonho inventado exatamente como ele seria se<br />

fosse efetivamente sonhado? Mas como?<br />

Sua tentativa de correspondência com escritores, como Jensen, por<br />

exemplo, foram totalmente malogradas no objetivo de encontrar nos<br />

mesmos o reconhecimento das fontes de onde emana a criação. Isto não<br />

impede contudo que Freud consiga revelar o quão aparentada é a atividade<br />

do psicanalista com a do poeta (CHEBABI, 1984, p.110).<br />

Isto ficará explícito um pouco mais tarde quando escreve o ensaio sobre<br />

Escritores criativos e devaneio. Mas já se encontra no ensaio sobre a Gradiva, de<br />

Jensen, a seguinte afirmação:<br />

os escritores criativos são aliados muito valiosos, cujo testemunho deve ser<br />

levado em alta conta, pois costumam conhecer toda uma vasta gama de<br />

coisas entre o céu e a terra com as quais a nossa filosofia ainda não nos<br />

deixou sonhar. Estão bem adiante de nós, gente comum, no conhecimento<br />

da mente, já que se nutrem em fontes que ainda não tornamos acessíveis à<br />

ciência (FREUD, 1976c, p.18).<br />

O que aproximaria tão intrinsecamente estes dois parceiros: A literatura e a<br />

psicanálise? Pergunta crucial que requer consistente resposta:<br />

Para tanto é preciso retroceder à fonte comum de ambos os saberes. Se é<br />

verdade que em cada ser humano mora um poeta também é verdade que a<br />

ocupação mais querida e intensa da criança é o brinquedo ou o jogo (Spiel,<br />

em alemão) (CHEBABI, 1984, p.110).<br />

Freud, rigorosamente, brinca com as palavras que estão à disposição em sua<br />

língua, pois “o brinquedo da palavra é muito sério” (IBIDEM, p.111), mas isto só<br />

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