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Aristóteles, em sua Poética, utiliza o termo ao se referir ao uso do estilo épico para<br />
ridicularizar ao invés de enaltecer os atos heróicos (Cf. SAN’ANNA, 1985, p.11).<br />
No campo dos estudos literários, cabe distinguir paródia de estilização. No<br />
caso da primeira, um texto qualquer se calca sobre anteriores para imitá-los<br />
enquanto traça-se num sentido totalmente diverso, formando um verdadeiro<br />
antagonismo sob a capa da identificação. Por outro lado a estilização consiste em<br />
tecer outro texto com os mesmos elementos estilísticos que regem outros<br />
anteriores, sem qualquer necessidade subjacente de antagonismo.<br />
A tentativa de, efetivamente, distinguir uma e outra forma de engendrar um<br />
novo texto sobre matrizes anteriores revela, de fato, a possibilidade não pouco<br />
freqüente, de que ambas se entrelacem e confundam. Millôr Fernandes, a cuja obra<br />
se dedica o presente trabalho, em suas Fábulas fabulosas ora faz uma, ora ambas<br />
as coisas, mas nunca apenas estilização, à qual dedicou uma série específica de<br />
textos esparsos (Cf. FERNANDES, 1974b, p.22-23; p.49).<br />
Esta questão não se reduz a mero detalhismo teórico, uma vez que “podemos<br />
falar de diversos tipos de relações intertextuais — a presença da obra de um autor<br />
na de outro [...]; de determinada época numa obra [...]; de outras obras do autor em<br />
sua própria obra [...]” (DOMINGUES, 2001, p.22).<br />
De fato, ao longo da produção millôriana encontram-se diversos exemplos de<br />
declarada estilização — declarada explicitamente, quando então o título se faz<br />
acompanhar de um texto entre parênteses, com o invariável enunciado: à maneira<br />
de... .<br />
Quando Millôr é paródico, mas o principal elemento do antagonismo é a<br />
estilização, isto também é declarado, como, por exemplo no caso do “IF” ... – 1960,<br />
onde faz questão de declarar: não à maneira de Rudyard Kipling (Cf. FERNANDES,<br />
1974, p.92-93)<br />
Não é o caso das Fábulas fabulosas, quando a estilização, se existe, é<br />
também declarada — através de à maneira de(dos) — mas está sempre submetida<br />
à dominância paródica, ao jogo de oposições, ao efeito surpreendente do qual<br />
resulta o riso. Mas o Humor vai além. Se brincar com palavras é coisa séria, muito<br />
séria, então o Humor feito na palavra, é algo que mantém-se como brincar para<br />
parodiar a realidade e suas formas demasiado restritas de interlocução com o<br />
mundo humano. Se, como observava Freud, o contrário da brincadeira é a realidade,<br />
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