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ANUNCIATA E SEU HUMOR - CES/JF

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Impossível não extrair deste curto texto, em forma de fábula, a agudeza de<br />

um punhal que caracteriza a lucidez de Millôr, quando retira riso das entranhas do<br />

impreciso convívio humano e seus desarranjos mais costumeiros e contumazes.<br />

Este é um dos temas que sempre retorna, de uma ou outra forma, em suas<br />

intervenções sobre a crueza do real. É a seriedade do Humor que lhe serve de arma<br />

para rir-se desta crua e obtusa realidade.<br />

E vem mais por aí. Trata-se de uma impropriedade que é de nosso<br />

conhecimento — supostos membros da coletividade e atentos a seus interesses e<br />

prerrogativas — desde há muito e que ainda se apresenta assim e pode estender-se<br />

indefinidamente caso não se possa revogar...<br />

O TRÁGICO PRECEDENTE<br />

(À MANEIRA DOS... HINDUS)<br />

Estava o rei persa saindo para a caçada, depois do seu ministro da<br />

meteorologia lhe afirmar que não ia chover durante dois meses quando, de<br />

brincadeira, perguntou ao muar que estava sendo carregado com as<br />

bagagens: “Como é muar, você concorda com a predição aqui do meu<br />

ministro? Vai chover?” O muar abanou a cabeça para baixo e para cima,<br />

peremptoriamente, afirmando que sim, que ia chover. Diante da curiosa<br />

reação do muar, ministro e rei caíram na gargalhada. Mas essa gargalhada<br />

logo se transformou num esgar de contrariedade por parte do rei e num ricto<br />

de humilhação por parte do ministro quando, estando no meio da floresta,<br />

no dia seguinte, caiu uma tremenda tempestade. Ali mesmo o rei despediu o<br />

seu ministro da meteorologia. E quando este tentou se explicar, gritou,<br />

raivoso: “Não adianta você querer se explicar. Um muar sabe mais de<br />

meteorologia do que você. Fá-lo-ei meu ministro!” E, realmente, assim que<br />

chegou ao palácio nomeou o muar ministro.<br />

MORAL: É POR ISSO QUE HOJE EM DIA QUAQUER MUAR ACHA QUE<br />

PODE FAZER PARTE DO GOVERNO E VIRAR MANDA-CHUVA (FF, 44).<br />

Com todos os equívocos, ainda assim, os membros do governo foram tidos<br />

como respeitáveis, de tempos em tempos, mesmo aos olhos dos produtores<br />

intelectuais de diversas áreas. Hoje, nem de longe, pode-se afirmar tal coisa. E<br />

Millôr, numa pequena fábula, o denuncia.<br />

Os muares com que hoje convivemos se valem de poderes auferidos através<br />

do dinheiro, da esperteza e do oportunismo bem posicionado e capaz de aproveitar<br />

os momentos propícios. O contexto favoreceu o muar e cada vez mais vem<br />

premiando os de sua espécie.<br />

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