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o professor, “mas se esqueceu de um ponto negativo — morreríamos todos<br />
afogados. Que diz você, Ivan?” E Ivan, o mais bem dotado de todos,<br />
respondeu docemente: “Da maneira mais simples, mais rápida, da única<br />
maneira verdadeiramente útil porque se poderia se poderia aproveitar o<br />
espaço”. Dirigiu-se até a parede, girou o comutador e o aposento encheu-se<br />
de luz. “Admirável! Correto! Perfeito!” disse o professor. “Realmente<br />
ninguém pode viver sem luz, a luz é que alimenta o mundo, a luz é que<br />
torna possível a saúde e a reprodução da espécie. Sem falar da simbologia,<br />
pois a luz representa o que há de mais...” Porém, antes que ele acabasse<br />
de falar, a polícia, que estava vigiando o edifício há vários dias, vendo que<br />
havia luz na janela, invadiu o aparelho e prendeu todo mundo.<br />
MORAL: QUEM ESTÁ NA MERDA NÃO FILOSOFA.<br />
SUBMORAL: DA DISCUSSÃO NASCE A LUZ. E DA LUZ? (FF, p.135-136).<br />
Eis uma cruel lucidez, ao pé da letra; e Fernando Pedreira, editor do<br />
Jornal do Brasil — onde o escritor, chargista, teatrólogo ou, enfim Humorista<br />
(Cf. FERNANDES, 1983, p.11-15), exerceu sua vasta e variada expressão<br />
criativa em páginas diárias e durante muitos anos — não deixa de constatá-la:<br />
“as observações de Millôr são quase sempre muito engraçadas,<br />
freqüentemente sábias., mas o que a meu ver lhes confere sua grandeza<br />
peculiar é a terrível, impiedosa, às vezes quase desumana, lucidez”<br />
(PEDREIRA, 1985a, p.01).<br />
Por fim, a terceira oportunidade de surpreender e pôr-se à escuta das<br />
supostas entrevistas de Millôr com La Fontaine, dá-se por ocasião dos<br />
diferentes destinos que atribuem à galinha dos ovos de ouro. E quando é<br />
Millôr quem tece os fios da trama, deve-se esperar algo de inesperado. No<br />
caso, seu artifício consiste em solapar a anterior moral moralizante, composta<br />
por La Fontaine, através de um ditado popular com igual aparência instrutiva.<br />
O resultado só pode ser um: o riso sardônico.<br />
A GALINHA DOS OVOS DE OURO<br />
Era uma vez um homem que tinha uma Galinha. Subitamente, em dia<br />
inesperado, a Galinha pôs um ovo de ouro. Outro dia, outro ovo. Outro ovo<br />
de ouro! O homem mal podia dormir. Esperava todas as manhãs pelo ovo<br />
de ouro — clara, gema, gala, tudo de ouro! — que o tirava da miséria aos<br />
poucos, e aos poucos o ia guinando ao milionarismo. O fato, que<br />
antigamente poderia passar despercebido, na data de hoje atraía<br />
verdadeiras multidões. E não só multidões. Rádios, jornais, televisão, tudo<br />
entrevistava o homem, pedindo-lhe impressões, querendo saber detalhes de<br />
como acontecera o espantoso acontecimento. E a Galinha, também, ia<br />
dando aqui e ali seus shows diante dos jornais, câmaras, microfones. Certa<br />
vez até, num esforço de reportagem, conseguiu pôr um ovo diante da<br />
câmara da TV Tupi. Porém o tempo passou e muito antes que o homem<br />
conseguisse ficar rico, a Galinha deixou de botar ovos de ouro.<br />
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