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ANUNCIATA E SEU HUMOR - CES/JF

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Uma tentativa B.N. (Bossa Nova) de escrever as fábulas de Esopo na<br />

linguagem do tempo em que os animais falavam.<br />

A BAPOSA E O RODE<br />

Por um asino do destar uma rapiu caosa, num pundo profoço do quir não<br />

consegual saiu. Um rode, passi por alando, algois tum depempo e vosa a<br />

rapendo foi mordade pela curiosidido. “Comosa rapadre” — perguntou —<br />

“que ê que esti fazá aendo?” “Voção entê são nabe?” respondosa a mapreira<br />

rateu. Vaí em a mais terrêca sível de teste a histoda do nordória. Salti aquei<br />

no foço deste pundo e guardarar a ei que brotágua sim pra mó. Porér, se<br />

vocem quisê, como é mau compedre, per me fazia companhode”. Sem<br />

pensezes duas var, o bem saltode tambou no pundo do foço. A rapente,<br />

imediatamosa, trepostas nas cou-lhes, apoifre num dos xides do bou-se e<br />

salfoço tora do fou, enquava berranto: “Adadre, compeus”.<br />

MORAL: JAMIE CONFAIS EM QUÁ ESTADE EM DIFICULDÉM (FF, p.78)<br />

Como era uma brincadeira entre Millôr e seu irmão Hélio, o que resulta de<br />

humorístico nesta fábula é o fato do jogo de palavras dar a impressão de que a<br />

moral está em francês (com alguma citação em latim); o que faz um dos maiores<br />

tradutores do pais ridicularizar a si mesmo, uma das facetas mais cruciais do humor.<br />

Há outros jogos de idêntico teor (Cf. FERNANDES,1978, p.46 ). Para realizar<br />

seus intentos, arte e artifícios não lhe faltam. A esse respeito vale lembrar, como<br />

interpolação, um caso específico. Em 1965 — atenção !! 1965 — Millôr escreve, com<br />

Flávio Rangel, a peça Liberdade, Liberdade para ser encenada no teatro Opinião.<br />

No dia seguinte ao da estréia, recebeu um telefonema de Lúcio Costa que, entre<br />

elogios, disse-lhe para tomar uma providência quanto às cadeiras do teatro que, por<br />

fazerem muito barulho, quando alguns se remexiam era impossível ouvir certos<br />

trechos do texto. Millôr promete besuntar as cadeiras de óleo e Lúcio diz que isto<br />

seria inútil, pois sendo feitas totalmente de madeira elas não deixariam de exercer<br />

sua incômoda participação no espetáculo:<br />

Era um domingo e eu cheguei na máquina, escrevi uma coisa<br />

pequena, achei que resolvia. Levei para o Flávio Rangel na praia, e o<br />

Flávio, naquela noite mesmo, pegou o Vianinha e deu para ele ler o<br />

trecho. Depois de uns vinte minutos o espetáculo começado (um<br />

espetáculo político, né?), Vianinha parava e dizia assim: “Agora,<br />

queremos que cada um tome uma posição. Este é um momento<br />

grave, importante neste espetáculo; cada um deve tomar sua<br />

posição. E uma vez tomada a sua posição, que a pessoa fique nessa<br />

posição (longa pausa), senão as cadeiras fazem muito barulho e não<br />

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