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tornando-a mítica e permeável apenas aos devidamente iniciados ( Cf. ROZEN,<br />
1978, p.206-600; THOMPSON,1976, p.11-217 )<br />
Freud e Millôr dispensam tal encarceramento.<br />
Assim, no postulado 4.123 dentre os hipotéticos 12.628 que compõem os<br />
fundamentos da Universidade Humorística do Méier, Millôr proclama: “Todo poder a<br />
Freud, como especulação intelectual. Nenhum como terapêutica” (FERNANDES,<br />
2004, p.164).<br />
Freud, já concordando, de antemão, em não discutir potências terapêuticas<br />
da psicanálise, mas ainda insistindo em lhe conferir um certo caráter científico,<br />
concordaria com o termo especulação, pois já observara que “sem especulação e<br />
teorização metapsicológica — quase disse ‘fantasiar’ — não daremos outro passo à<br />
frente” (FREUD, 1975, p.257).<br />
No campo do humano propriamente dito não há qualquer motivo para os<br />
imperativos das Ciências da Natureza; aí só importam as conquistas das Ciências<br />
da Cultura. Mas esta é uma sisuda discussão que está longe de chegar ao fim e não<br />
interessa levá-la tão adiante.<br />
4.3 LA FONTAINE E MILLÔR : TRADIÇÃO E RUPTURA?<br />
4.3.1 Justificativas<br />
Diante da volumosa e múltipla produção de Millôr Fernandes, algum ponto de<br />
ancoragem deveria ser estabelecido para a abordagem que o estudo em curso<br />
requer. Optou-se, então, por suas fábulas e não sem os devidos motivos. O primeiro,<br />
por tratar-se de uma escolha tão pertinente quanto qualquer outra, visto que Millôr<br />
utilizou (e utiliza) variadas formas de expressão, verbal e plástica, para destilar seu<br />
Humor — um painel muito ilustrado disto encontra-se no Trinta anos de mim<br />
mesmo (Cf. FERNANDES, 1974b, p.5; 236), onde exemplos colhidos entre 1943 e<br />
1972 revelam, no mínimo, tal diversidade; o segundo, por apresentarem de forma<br />
nítida e inequívoca o teor agressivo (e até cruel) da ultrapassagem que o Humor<br />
pretende e promove.<br />
Torna-se claro que este segundo motivo foi o que primeiro ocorreu, mas<br />
precisava resguardar-se do temor de estar sendo reducionista diante da caudalosa<br />
criatividade millôriana, comprimindo-a demasiadamente entre suas margens. Por<br />
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