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1 A TEXTURA DOS LAÇOS: Interdisciplinaridade e intertextualidade<br />
O jogo interdisciplinar que se torna mais e mais presente a partir da segunda<br />
metade do século XX, tem em Edgar Morin seu agenciador mais presente,<br />
persistente e produtivo. De fato, “ é imperativo creditar a Edgar Morin o papel de<br />
grande artesão do pensamento complexo e da idéia de complexidade”. (ALMEIDA,<br />
1997, p.30).<br />
Com uma obra volumosa, onde reúne rigor, método e poesia, Morin encontra-<br />
se no cerne das discussões sobre interdisciplinaridade ou, como ele prefere,<br />
pensamento complexo:<br />
O pensamento complexo tenta religar o que o pensamento disciplinar e<br />
compartimentado disjuntou e parcelarizou. Ele religa não apenas domínios<br />
separados do conhecimento, como também — dialogicamente — conceitos<br />
antagônicos como ordem e desordem, certeza e incerteza, a lógica e a<br />
transgressão da lógica. É um pensamento da solidariedade entre tudo o que<br />
constitui nossa realidade; que tenta dar conta do que significa<br />
originariamente o termo complexus: ‘o que tece em conjunto’, e responde ao<br />
apelo do verbo latino complexere: ‘abraçar’. O pensamento complexo é um<br />
pensamento que pratica o abraço. Ele se prolonga na ética da<br />
solidariedade.<br />
Ao mesmo tempo, o pensamento complexo redescobre o individual, o<br />
contingente e o perecível que haviam sido desprezados pela metafísica,<br />
pela ciência e pela técnica ocidental (1997, p.11-12).<br />
O entrelaçamento que aqui se faz entre Freud, Winnicott e Millôr segue<br />
exatamente tal perspectiva, mantendo todos os requisitos que exige a cautela.<br />
1.1 PSICANÁLISE E LITERATURA: um diálogo visceral<br />
Com a emergência dos estudos interdisciplinares em oposição ao paroxismo<br />
das especializações tornaram-se cada vez mais evidentes os nexos entre a literatura<br />
e as outras áreas do conhecimento e do lazer humanos. Os agenciamentos da<br />
interdisciplinaridade “ instigam a uma ampliação dos campos de pesquisa e à<br />
aquisição de competências” (CARVALHAL, 1998, p.74), que antes estavam<br />
totalmente fragmentadas, apontando ou estabelecendo as relações entre literatura e<br />
outras formas de arte ou áreas de conhecimentos e expressão.<br />
Lançando o olhar em direção à literatura, “hoje em dia, todo um cabedal de<br />
conhecimentos foi posto à disposição da crítica literária — da sociologia à<br />
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