ANUNCIATA E SEU HUMOR - CES/JF

conseqüência desta inquietação, vasculhou-se tudo o que se encontra editado no
formato livro — e que corresponde a material selecionado, quando se refere ao que
surgiu originalmente em jornais e revistas, ou peças teatrais, ou contribuição em
obras coletivas, ou coleção de charges, ou mais ainda e além — e ao fim do
mergulho, emergiram as Fábulas fabulosas como a melhor forma de conceder a
Millôr uma concisão, sem contudo traí-lo em nada, porque tais fábulas são ilustradas
por ele e, ao pé da letra, ilustram precisamente seu Humor. Houve, enfim, uma
escolha, e a autora desta dissertação é integralmente responsável por ela.
Não é pouca ousadia dizer que se concede a Millôr uma concisão ao tomar-
lhe preferencialmente as fábulas. Versátil, plural, experimentador, criador profuso,
não há qualquer argumento capaz de torná-lo resenhável ou procedimento
resumidor que o abarque. Por isto mesmo, sem resumo, sem resenha, sem
paráfrases, suas fábulas entram em cena tais como são. A ousadia consiste em
constatar que em suas fábulas ele está plenamente apresentado em seu Humor e,
para confirmar tal coisa, utilizam-se observações dele mesmo sobre de que se trata
isto: o Humor. É aí que o percurso anterior em Freud e Winnicott encontram
pertinência, pois vieram para este fim: um encontro com Millôr.
Mas esta escolha da fábula ainda tem outras razões, que vão desde o caráter
curto e certeiro — o que requer toda produção de riso — até discussões sobre uma
originalidade que Millôr não requisitou indevidamente para si (Cf. FERNANDES,
1974b, 231-236). E, mais além, o sabor de arranjar um certo encontro dele com La
Fontaine antes de deixá-lo às voltas com enredos próprios.
4.3.2 Esclarecimentos
Terminadas as justificativas, cabe deixar claro em que consiste a fábula. De
início, comedidamente, ela pode ser apresentada como:
Narrativa curta, não raro identificada com o apólogo e a parábola, em razão
da moral, implícita ou explícita, que deve encerrar [...] no geral, é
protagonizada por animais irracionais, cujo comportamento, preservando as
características próprias, deixa transparecer uma alusão, via de regra satírica
ou pedagógica, aos seres humanos. Escrita em versos até o século XVII,
em seguida adotou a prosa como veículo de expressão (MOISÉS, 1988,
p.226).
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