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E o humor de Millôr Fernandes é, ele mesmo, Humor (com maiúscula), ou<br />
seja, um processo onde o desmascaramento do ridículo da realidade tem no riso seu<br />
mais fiel derivado, uma conseqüência do desvelamento súbito, rápido e cortante do<br />
absurdo humano, do mundo que com suas obliterações, nunca deixa de gerenciar<br />
perplexidades. É um Humor mais que puramente revoltado, mas antes<br />
despudoradamente delator de uma solenidade que jamais admite o genuíno<br />
atordoamento que, talvez, consista no único fator de franca aproximação entre os<br />
homens. Um atordoado, efetivamente admitido como tal, poderia encontrar em outro,<br />
no mínimo, um descarado semelhante, numa sinceridade sem qualquer máscara.<br />
Parece brincadeira, e talvez seja, mas que belo brincar este que, desfazendo<br />
falsas superioridades, jogasse todo ser humano na mesma inadequação<br />
fundamental, num risível desconforto que transformasse o mundo num conluio de<br />
atônitos onde os sábios, permanentemente cientes disto, não passassem de<br />
indagadores contumazes e os espertos se exaurissem no próprio jogo tolo que<br />
aliciam. Enquanto tal não ocorre, e talvez nunca ocorra, o Humor pretende pôr à<br />
mostra todas as desfaçatezes. Solta seu incontido riso diante das grandiloqüências<br />
que viscejam à volta. Afinal, pode existir algo verdadeiramente mais ridículo que<br />
isto!?! O resto é enredo.<br />
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