03.06.2013 Views

ANUNCIATA E SEU HUMOR - CES/JF

ANUNCIATA E SEU HUMOR - CES/JF

ANUNCIATA E SEU HUMOR - CES/JF

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

MORAL: A SABEDORIA, NOS DIAS DE HOJE, ESTÁ VALENDO 20% DA<br />

ESPERTEZA (IBIDEM, p.47-48).<br />

Ao ser esperto, o aluno contrata o mestre como apto e consegue convencê-lo<br />

a aceitar um jogo onde as regras parecem levar em conta a superioridade deste.<br />

Dispostos os termos do contrato, resta a aceitação da armadilha: o aluno será o<br />

primeiro a perguntar. O mestre cai fácil no engodo, pois lhe parece natural que<br />

alunos lhe perguntem algo para recorrer à sua sabedoria, e como quer provar que<br />

sabe antes de efetivamente ensinar, aceita a isca. E perde a aposta.<br />

Mas a moral da fábula mostra e demonstra sua perspicácia: o mestre, ao<br />

postar-se nesse lugar, é capaz de achar que nada existe além de seu saber e é<br />

presa fácil para qualquer falácia, qualquer sofisma que o deixe satisfeito quanto a<br />

isto.<br />

O aluno, neste caso, serve-se da arrogância do professor — calcado num<br />

saber supostamente maior — para faze-lo pagar por isto? Nada mais distante de<br />

Millôr, que pretende evidenciar a inversão de valores que vigora no contexto atual.<br />

Saber vale pouco, ludibriar vale mais. Mas, ao fim das contas, isto serve tanto a<br />

alunos como a professores.<br />

O humor vigora sempre na denúncia, no desmascaramento da realidade<br />

cheia de regras e formas e contudo inapta para assegurar a subjetividade do um a<br />

um. O humor é feito de revelação sutil ou cruel; supera o óbvio e muito bem<br />

preparado jogo burocrático, introduz o inesperado, joga com a revolta e dá-lhe meios<br />

de se expressar. O humor joga na cara da tirania maquiada sua verdadeira face e<br />

reduz a prepotência às evidências de sua inoperância. Qualquer humor que mereça<br />

este nome deve ser capaz de desnudar uma impostura e torná-la ridícula.<br />

O sentido do humor é exatamente este: ridicularizar as arrogâncias afirmadas<br />

pelo mundo. Não há humor sem denúncia, cruel que seja; não há humor sem<br />

confronto, pior que seja; não há humor sem desvelamento, rude que seja; não há<br />

humor sem contundência, franqueza, revelação, raivoso riso, esgar diante do<br />

ridículo. Não há humor sem enfrentamento lúcido; o humor sabe o que quer dizer e<br />

onde quer chegar com isto.<br />

Enfim, como se disse, estas são apenas algumas das fábulas que<br />

desenvolvem os temas que participam aqui, ali e acolá, do universo crítico do Humor<br />

ao qual Millôr dedicou e dedica toda a sua vida. Quaisquer outros exemplos, que<br />

92

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!