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dissertação aqui em curso, o esquema de Jan Abram, dado seu rigor conceitual (Cf.<br />
ABRAM, 2000, p.13).<br />
Winnicott entende que a fusão dos componentes erótico e agressivo não pode<br />
ser estabelecida de início e admitida como já determinada ao nascer-se filhote-de-<br />
homem (como o faz Klein, que propugna uma fusão pulsional primária); ao contrário,<br />
deve ser vista como um objetivo a ser alcançado. “Supomos a existência de uma<br />
fusão de componentes agressivos e eróticos na saúde, mas nem sempre damos a<br />
importância adequada à pré-fusão e à tarefa de fusão” (WINNICOTT, 1978, p.369 ).<br />
É num texto de 1963 — “O desenvolvimento da capacidade de se preocupar”<br />
— que Winnicott funda a idéia de que, para o bebê, existem duas mães: a mãe-<br />
objeto e a mãe-ambiente. A primeira constitui-se na mãe experimentada pelo bebê<br />
em seu estado de excitação e a segunda é aquela tomada como outro pelo bebê em<br />
seu estado de paz e tranqüilidade. O advento dessas duas mães na mente do bebê<br />
é um fator necessário ao desenvolvimento, tornando-o capaz de instituir o sentido de<br />
preocupação. Portanto, a função de fusão pode ser entendida como a primeira teoria<br />
de Winnicott para a junção de duas mães, ou melhor, dos traços erógenos e<br />
agressivos em relação a um mesmo objeto.<br />
O amor cruel do bebê inicialmente ajuda a ‘localizar o objeto’ exteriormente<br />
ao self. Esta idéia, mais tarde desenvolvida em “O uso de um objeto e o<br />
relacionamento através de identificações”, aparece originalmente em um trabalho de<br />
1954: “A posição depressiva no desenvolvimento emocional normal” (Cf.<br />
WINNICOTT,1978, p.442-445 ). A noção de círculo benigno, entendido como<br />
inserido na capacidade de estar implicado, assim como a idéia de duas mães — a<br />
mãe-objeto e a mãe-ambiente — foi apresentado nesse trabalho e desenvolvida no<br />
decorrer da década de sessenta.<br />
Foi quatro anos depois, em 1958, que ele vinculou positivamente — numa<br />
escala de valores — a crueldade à criatividade do artista. Em um parágrafo bastante<br />
enigmático intitulado O artista criativo, Winnicott demonstra sua aprovação ao self<br />
cruel do artista. “As pessoas habitualmente governadas pelo sentimento de culpa<br />
acham isso surpreendente; assim tenho um respeito sub-reptício pela falta de<br />
piedade que leva, de fato, em tais circunstâncias, a conseguir mais do que o<br />
trabalho orientado pela culpa” (WINNICOTT, 1982, p.29 ). A arte não se baseia nas<br />
virtudes domésticas; afinal “ quem se preocupa com a beleza formal atribui uma<br />
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