Amigos Leitores - Intervenção urbana
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trabalhadores revolucionários constituíram-se como movimento para se<br />
destruírem enquanto classe. De certa forma, as lutas dos desempregados<br />
podem ser interpretadas como uma radicalização das dinâmicas de luta das<br />
minorias. Com efeito, o elemento "identitário" (o ser mulher, o ser<br />
homossexual), que está na origem dos movimentos de minorias, apresentase<br />
aqui exclusivamente como subjugação. Os desempregados e os precários<br />
(1) são obrigados, para se organizarem, a assumir uma "identidade" contra a<br />
qual, ao mesmo tempo, se batem. Eles têm todas as razões de recusar uma<br />
identidade que lhes confere não somente um estatuto econômico de pobre<br />
e superexplorado, mas os submetem também a dispositivos de subjugação e<br />
individuação estatais.<br />
A luta por uma renda é confrontada com as dificuldades de qualquer luta de<br />
minorias: como assumir uma identidade sujeitada (ser desempregado, ser<br />
precário), sem se deixar fechar em uma nova classificação, um novo<br />
estatuto da pobreza? Como fazer de "uma renda para todos", não a<br />
condição de sobrevivência dos "excluídos" mas uma condição prévia para<br />
romper com a subordinação à "potência" produtiva social, com a disciplina<br />
da empresa e a subjugação do Estado?<br />
O Estado, como toda instituição "representativa", tem necessidade para<br />
funcionar de modelos de identidade molares e codificados. Por muito tempo<br />
o salariado virou o modelo majoritário da sociedade capitalista sobre o<br />
terreno do "trabalho" e a distribuição da renda.<br />
A classe operária deixou de ser um sujeito revolucionário (e o marxismo<br />
uma teoria revolucionária) desde que suas organizações abandonaram o<br />
"fim do trabalho assalariado" como programa político. Em vez prosseguir na<br />
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"destruição" da classe operária, as organizações do movimento operário<br />
fizeram do salariado o "modelo" impermeável a qualquer subjetivação. A<br />
classe operária e as suas organizações tornaram-se assim potentes<br />
"instrumentos de integração". Se esta integração fora "dinâmica" (!) nos<br />
gloriosos anos trinta porque procurava conquistar um poder de compra,<br />
desde o declínio do "fordismo" ela é apenas "repressiva" e literalmente<br />
"reacionária". Ela contribui para a reprodução de um "modelo majoritário"<br />
cada vez mais vazio.<br />
O que o Estado e os modelos majoritários não podem suportar são as<br />
"relações ambíguas" nas quais os movimentos de minorias se constituem.<br />
Os imigrantes, por exemplo, que estão "entre" a sua identidade cultural de<br />
origem e uma identidade do país que "os acolhe", que não podem nem<br />
querem assumir completamente. Estar "entre" uma identidade e uma outra<br />
é o que caracteriza as mulheres, os homossexuais, mas também, de acordo<br />
com modalidades diferentes, os precários que estão "entre" o desemprego<br />
e o emprego. Este "entre-dois", momento de sofrimento mas também de<br />
criatividade, conseqüência da crise e de "linha de fuga", é o que deve ser<br />
apagado: o imigrante deve integrar-se ao modelo da cidadania, o precário<br />
ao modelo sala.rial.<br />
O pequeno problema, que abre um longo futuro a estas lutas, é que o<br />
"modelo majoritário" do cidadão, do trabalho, para não dizer nada da<br />
identidade sexual e das relações de poder que ela implica, está em crise<br />
estrutural.<br />
Todos estão, pelo menos virtualmente, "entre" uma e outra coisa entre<br />
desemprego e emprego. Entre diferentes culturas, entre diferentes