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Amigos Leitores - Intervenção urbana

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sintam-se seguros dentro de uma gama completa de sentimentos, em vez<br />

de sentimentos num único nível; assim como também é importante para os<br />

gays experimentar uma gama completa de sentimentos. Nesse aspecto a<br />

política de provocação não vem ao caso. Ninguém é atraído através da<br />

provocação. Podem ser atraídos, isso sim, dando-lhes um lugar onde sintamse<br />

confortáveis, fazendo com que se sintam protegidos para que possam<br />

obter uma ereção...<br />

YOUNG – Acho que, decisivamente, há tensões no Movimento; entre os que<br />

dizem que chupar todas equivale à liberação e os que dizem que estamos<br />

encapsulados numa proposta de carne-conhece-carne, que temos de sair<br />

disso e nos relacionarmos com os outros como pessoas.<br />

GINSBERG – Relacionar-se às vezes consigo próprio ou com outras pessoas<br />

como um pedaço de carne é uma experiência humana importante. Trata-se<br />

de uma maneira de perder o ego, um yoga divino e santo de perda do ego:<br />

entrar numa orgia e ser reduzido a um anônimo pedaço de carne, gozar e<br />

reconhecer o teu próprio anonimato orgiástico. Evidentemente não é lugar<br />

onde se possa passar toda a vida, mas certamente é um lugar a ser visto<br />

como uma lição e experiência divinamente animalescas e maravilhosas. Para<br />

isso serviam as antigas orgias dionisíacas; trata-se de um rito ancestral. Não<br />

vejo nada de mal em manter relações com as pessoas de modo puramente<br />

carnal, desde que não te deixes levar por isso o tempo todo e não te<br />

mantenhas nesse único nível de consciência como fazem muitas bichas.<br />

O protesto da Liberação Gay obviamente não deve resumir-se a uma<br />

simples sexualidade lírica. O uso do sexo como estandarte pour épater le<br />

bourgeois, para remexer nossos sentimentos ou provocar também não é<br />

interessante o bastante para manter-se por mais de dez minutos; não é<br />

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suficiente para sustentar um programa que implique o amor até o leito de<br />

morte, ou para ajudar a Indochina e que, afinal de contas, nem sequer serve<br />

para foder. Tens que fazer mais alguma coisa. Também é preciso que nos<br />

relacionemos com as pessoas e seus problemas.<br />

Aprecio as saunas e as orgias. Acho que as orgias deveriam ser<br />

institucionalizadas: impessoais orgias de carne, sem questões de<br />

personalidade ou caráter, ou de relação como pessoas. Quem insultar<br />

Dionísio que se prepare para pagar o preço! Em Ezra Pound (Canto 2) são<br />

pasto de leopardo ou então convertem-se folhas de parreira; quando<br />

menosprezam o deus, insultam Dionísio.<br />

YOUNG – O problema deste enfoque é que enquanto a tua carne é jovem e<br />

atraente, tudo bem. Mas se não cumprir certos requisitos...<br />

GINSBERG – Na minha idade é quando realmente se apreciam as orgias,<br />

sobretudo às escuras, nas quais ninguém vê ninguém e pouco importa quem<br />

está trepando contigo. A paranóia nos banhos turcos acerca de se estás ou<br />

não aceitável é outro problema. Mas a orgia é uma maneira de igualar as<br />

pessoas – gente gorda, gente magra, gente bonita, gente feia, corcundas,<br />

coxos e raquíticos, todos unidos na escuridão.<br />

Peter e eu costumávamos participar de situações como essa em São<br />

Francisco, com garotos e garotas, tudo muito agradável. Ele gostava de<br />

garotas e isso dava uma boa vibração quando outros homens entravam no<br />

jogo. Como Peter e eu formávamos um par bastante unido, isso abriu-lhe a<br />

porta para todos. Ele trepava com as garotas e com os garotos. Às vezes, eu

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