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Amigos Leitores - Intervenção urbana

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a idéia de que, além do sexo, pode haver entre as pessoas outra maneira de<br />

se relacionar.<br />

Quando estive na Austrália, fiquei louco por um jovem e belo dobrista<br />

[tocador de dobro, instrumento hindu] que me acompanhou durante toda a<br />

viagem. Ele me procurava e me esperava o dia inteiro no hotel e colocou-se<br />

à minha disposição para tocar música comigo. Ele queria tocar mantras e<br />

logo descobri que se tratava de um intérprete magnífico de blues e me<br />

ensinou a tocar blues. Trepou comigo na primeira noite e fiquei fascinado<br />

diante do seu... ânimo de servir, sua disponibilidade, generosidade, seu<br />

temperamento e sentido de dever. Depois não quis mais trepar comigo,<br />

embora me amasse. Fui o primeiro homem com quem trepou. Como posso<br />

me relacionar com alguém que me deseja, mas não quer brincar com o meu<br />

pau e se nega a chupá-lo? No entanto, ele não se importava em dormir nu<br />

comigo na mesma cama, ao meu lado, porque me desejava e amava. Havia<br />

nisso algo de excepcional, mas isso era mais excepcional do que os meus<br />

desejos?<br />

E foi assim que me vi finalmente envolvido numa situação muito parecida à<br />

que esteve tão em moda no século 19, recomendada por Edward Carpenter<br />

e Whitman para pessoas que dormiam juntas. Chama-se carezza e trata-se<br />

de uma amizade platônica em que as pessoas dormem juntas nuas, se<br />

acariciam mutuamente, mas não há penetração e o sêmen é guardado por<br />

razões de yoga ou coisa semelhante. E foi o que fiz com aquele garoto.<br />

Nas duas semanas seguintes percorremos toda a Austrália. Percebi que a<br />

intensidade da minha devoção por ele, na região do coração – uma sensação<br />

cálida e dolorosa o coração – crescia, crescia, crescia e se transformava em<br />

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algo mais desejável e narcotizante e passou a ser mais satisfatório levá-lo<br />

dentro de mim. E notei que ele correspondia da mesma forma e percebi que<br />

abrigava no peito essa mesma sensação cálida em relação a mim e que ela<br />

era intensificada pela nua castidade que praticávamos juntos. Quando<br />

subíamos ao palco e tocávamos em duo – eu cantava mantras, blues, tocava<br />

harmônica e ele tocava o dobro – a comunicação erótica entre nós tornavase<br />

estática, delirante e incontível. Continuamente nossa paixão explodia em<br />

canções e olhares que excitavam o público, me excitavam e o excitavam.<br />

Então cheguei a sentir outro tipo de orgasmo, muito sutil e etéreo, que<br />

parecia ocupar a parte superior do meu corpo em vez da área genital.<br />

Apesar de ter sempre nutrido preconceitos contra esse tipo de sublimação,<br />

se a considero como uma espécie de sublimação primária, como impulsos<br />

sexuais sagrados, a experiência torna-se tão deliciosa que nenhuma razão<br />

moral pode obscurecê-la. Eu a recomendo, todos deveriam ter essa<br />

experiência. Podes te aproximar intimamente das pessoas que amas,<br />

mesmo que não queiram manter relações sexuais contigo. Podes ter algo<br />

como uma relação completa. Sob qualquer uma das formas que assuma,<br />

“Abaixo o sexismo!”<br />

Conheço muitos homens que pensam da mesma maneira. Talvez não<br />

cheguem a dormir juntos e nus, mas sentem e compartilham sentimentos<br />

de amor; no entanto, são completamente heterossexuais. Não me<br />

surpreenderia se isto fosse, na maioria dos homens, uma experiência<br />

universal, totalmente aceita, absolutamente comum, realmente<br />

compartilhada.<br />

A idéia de um companheiro é apenas o rótulo frágil, a vulgarização disso.

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