Amigos Leitores - Intervenção urbana
Amigos Leitores - Intervenção urbana
Amigos Leitores - Intervenção urbana
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Em “No Labor-Saving Machine”, ele escreve:<br />
(...) But a few carols vibrating through the air I leave,<br />
For comrades and lovers.<br />
E Whitman diz em “A Glimpse”:<br />
A glimpse through an interstice caught,<br />
Of a crowd of workmen and drivers in a bar-room around the stove late of a<br />
winter night, and unremark’d seated in a corner,<br />
Of a youth who loves me and whom I love, silently approaching and seating<br />
himself near, that he may hold me by the hand,<br />
A long while amid the noises of coming and going, of drinking and oath and<br />
smutty jest.<br />
There we two, content, happy in being together, speaking little, perhaps not<br />
a word.<br />
Perfeito! E absolutamente real. Isso é a vida. Inclusive a vida heterossexual.<br />
É a realidade indescritível das relações humanas na América do Norte. Não<br />
podemos chamá-la de gay.... Tem a ver com o que eu dizia antes, em relação<br />
ao que deve ser... O afeto de que Whitman falava, agora latente em todos<br />
nós, e que está pronto para aflorar sabe lá Deus em quantas pessoas nos<br />
últimos dez anos, quantos rapazes com quem me encontrei e com quem me<br />
59<br />
sentei e com quem enlacei as mãos e pelos quais nutri sentimentos de amor<br />
e vice-versa, na universidade ou em qualquer outro lugar e que nada teve a<br />
ver com viadagem entre aspas, nem mesmo com o que se chama de gay. O<br />
gay tem excesso de categoria!<br />
YOUNG – Pelo que você disse antes, isso aconteceu até certo ponto entre os<br />
boêmios e os hipsters...<br />
GINSBERG – Ah, isso existe desde o homem de Cromagnon!<br />
YOUNG – Parece-me que há atualmente uma tensão entre os gays freak<br />
(gays hippies) e os gays straight (gays conformistas). Há pessoas no<br />
movimento de liberação gay que dizem “tenho mais coisas em comum com<br />
um heterossexual hippy do que com um gay de cabelo curto e alcoólatra. E<br />
há outros gays que dizem “devo minha lealdade a outros gays e a cultura<br />
freak é demasiadamente machista”.<br />
GINSBERG – Senti isso na tradição homossexual sincera, populista,<br />
humanista, meio heterossexual, whitmaniana, boêmia, livre, afetuosa como<br />
verificamos em Sherwood Anderson, Whitman e talvez um pouco em Genet,<br />
em oposição à bicha louca meio histérica, privilegiada, exageradamente<br />
efeminada, mexeriqueira, endinheirada e money-style-cloth-conscious<br />
[consciente do estilo e da roupa cara]. Não há nada mais ancestral, e em<br />
certo sentido mais respeitável, do que o velho travesti xamanista que vemos<br />
fazendo o trottoir na Greenwich Avenue, ou mesmo entre os índios norteamericanos<br />
a figura do xamã, que se veste de mulher e até arranja marido.<br />
Há alguma coisa de muito ancestral e encantador na jovem bicha louca; uma<br />
companhia fantástica, de expressividade e individualidade absolutas – às