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Amigos Leitores - Intervenção urbana

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os quais as “tecnologias de produção do sexo” indicadas por Foucault. De<br />

Lauretis nomeia sex/gender/system a imposição de imagens binárias de<br />

sexo, da qual a heterossexualidade, enquanto prática normativa e<br />

naturalizada é constitutiva.<br />

O eccentric subjet seria para esta autora o sujeito do feminismo, aquele que<br />

está dentro e consciente de suas condições de produção, mas constituído<br />

por uma constante atividade de des-identificação do ego, do grupo, da<br />

família, e des-locamento do próprio ponto de entendimento e articulação<br />

conceitual (19), um constante cruzar de fronteiras, um remapeamento dos<br />

limites entre corpos e discursos, identidades e comunidades (20). Neste<br />

sentido, para esta autora, o feminismo não expande apenas limites e inclui<br />

categorias, mas representa e traz uma mudança na consciência histórica, na<br />

medida em que reconhece e articula o situacional do presente, o políticohistórico<br />

e o político-pessoal do próprio pensamento para melhor<br />

questionar suas evidências, seu instrumental teórico e suas práticas .(21)<br />

Não estamos longe de Foucault quando afirma que (…) o problema político<br />

essencial para o intelectual (…) é saber se é possível constituir uma nova<br />

política de verdade (22). Para este autor, “Não se trata de libertar a verdade<br />

de todo sistema de poder (…), mas de desvincular o poder de verdade das<br />

formas de hegemonia (social, econômicas, culturais) no interior das quais<br />

ela funciona no momento.”(23)<br />

Na identificação da heterossexualidade como produção de um saber sobre o<br />

humano e de uma prática normativa que exercem o poder de naturalização<br />

do binário, de Lauretis aplica esta fórmula foucaultiana e adensa a análise<br />

da instituição dos corpos sexuados.<br />

O sex/gender/system, cujo eixo é o exercício de uma prática sexual<br />

codificada e polarizada imbrica-se às considerações de Foucault a propósito<br />

155<br />

dos caracteres fundamentais da sexualidade: “ (…) não traduzem uma<br />

representação mais ou menos embaçada pela ideologia ou um<br />

desconhecimento induzido pelas interdições; eles correspondem às<br />

exigências funcionais do discurso que deve produzir sua verdade”(24)<br />

Mas neste caso, o “sujeito do feminismo” para de Lauretis poderia parecer<br />

aqui apenas como um significante geral para a crítica da produção do<br />

conhecimento e das estratégias e táticas sociais; entretanto, seu<br />

afunilamento no estudo das “tecnologias de gênero” (como por exemplo, o<br />

cinema) mostra que a des-identificação e o des-locamento atuam quanto às<br />

matrizes modelares dos papéis e corpos sexuados, pois o eccentric subject<br />

se encontra ao mesmo tempo dentro e fora das ideologias de gênero. Esta<br />

postura incorpora, portanto o sujeito “mulher” ao mesmo tempo em que o<br />

ultrapassa ou excede na crítica ao “aparato sócio-cultural da<br />

heterossexualidade”. (25)<br />

O lugar de fala deste discurso, porém - quem fala, para quem, de onde,<br />

segundo a clássica proposição de Foucault (26), é também “ex-cêntrico” na<br />

produção do saber institucional da atualidade: enquanto feminista e<br />

assumindo uma postura política é desqualificado; enquanto crítica da<br />

heterossexualidade como locus de poder na produção do<br />

sex/gender/system é “ex-centrico” à produção acadêmica centrada sobre a<br />

categoria gênero, cujo aspecto relacional re-naturaliza a divisão sexuada do<br />

humano.<br />

Neste sentido Jane Flax observa a respeito do feminismo: “(…) nossa própria<br />

busca de um ponto de Arquimedes pode obscurecer nossa inserção numa<br />

‘episteme ’na qual as afirmações da verdade podem tomar somente certas<br />

formas e não outras.(…) (27) Insere-se assim em uma rede valorativa e<br />

prescritiva que não apenas define as escolhas e as exclusões, mas

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