10.06.2013 Views

Amigos Leitores - Intervenção urbana

Amigos Leitores - Intervenção urbana

Amigos Leitores - Intervenção urbana

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

na neurofisiologia do corpo humano. Na realidade, ocorria que um tipo<br />

especial de "organismo" artificial - o ciborg - estava sendo proposto como<br />

solução para a questão da "alteração das funções corporais necessária para<br />

suportar diferentes ambientes" (Clynes e Kline, 1960,:26). Para estes<br />

pesquisadores, a alteração da ecologia do corpo seria efetuada<br />

primariamente por sofisticados sistemas de controle instrumentais e<br />

farmacêuticos. Assim, "a proposta do ciborg, bem como seus próprios<br />

sistemas homeostáticos" tinha por objetivo, de acordo com estes antigos<br />

pioneiros, "fornecer um sistema organizacional no qual tais problemas<br />

robóticos [como os "controles homeostáticos autônomos" do corpo]<br />

funcionassem automaticamente e inconscientemente, deixando o homem<br />

livre para explorar, criar, pensar e sentir " (Clynes e Kline, 1960: 27; note-se<br />

como as referências para "seu" e "o homem" indicam a especificidade de<br />

gênero dessa problemática).<br />

Nas suas formas mais extremas, o organismo cibernético wieneriano<br />

poderia assumir a forma de pura informação - "informação humana"<br />

(Wiener, 1954:104) - nada mais sendo do que um determinado "modelo<br />

mantido por... homeostase, que [era] a pedra-de-toque de [nossa]<br />

identidade pessoal", a ser transmitido como uma mensagem na medida em<br />

que essa era, em primeiro lugar, uma mensagem (1954:96). Para Clynes e<br />

Kline, em contraste, o ciborg representava uma solução diferente, mais<br />

imediata e prática daquela foi pressentida pelos primeiros cibernéticos, já<br />

que foi projetado para resistir aos rigores da viagem espacial, embora<br />

adotasse os princípios fundamentais da cibernética, em particular os de<br />

feedback e homeostase.<br />

Embora inicialmente projetada para viagem espacial, as implicações<br />

transformativas deste novo tipo de organismo cibernético tiveram longo<br />

alcance. Como Clynes subseqüentemente indicou no Foreword to ciborg -<br />

Evolution of the Superman, um relato popular do fenômeno de ciborg<br />

130<br />

editado por D.S. Halacy em 1965: "uma nova fronteira está se abrindo e<br />

ela... não é meramente espacial mas, mais profundamente, a relação do<br />

'espaço interior' com o 'espaço exterior' - uma ponte que está sendo<br />

construída entre mente e matéria, começando no nosso tempo e que se<br />

estenderá no futuro". Clynes chegou ao ponto de argumentar que o ciborg<br />

era mais flexível do que o organismo humano porque não era limitado em<br />

sua vida pela hereditariedade. O ciborg era, em sentido específico, uma<br />

entidade reversível porque era uma "combinação" de homem-máquina<br />

(Halacy, 1965:7). Essa reversibilidade, combinada ao fato de que<br />

"dispositivos" artificiais poderiam ser incorporados ao [corpo humano],<br />

encadeando um feedback regulador", produziria uma fase da evolução que<br />

seria participativa. (Halacy, 1965:8). Conseqüentemente, se máquinas<br />

automáticas mantivessem a promessa de outra forma de inteligência<br />

humana, então a cibernética redefiniria a inteligência de tal maneira que o<br />

ciborg, como preconizado por Clynes e Kline, poderia se tornar sua<br />

incorporação mais perfeita: " um ser novo e... melhor " (Halacy, 1965:8).<br />

Em 1985, o termo ciborg acabou apropriado, em virtude de sua ressonância<br />

polissêmica, pela historiadora socialista e feminista da biologia, Donna<br />

Haraway, sendo usado, neste caso, para um propósito social diferente,<br />

como "estratégia retórica e... método político" (Haraway, 1991:149). Para<br />

Haraway o ciborg não era só um "híbrido de máquina e organismo": era<br />

também uma "criatura da realidade social tanto quanto uma criatura da<br />

ficção" (Haraway, 1991:149). Dentro de um novo contexto semântico,<br />

fornecido pelos discursos socialistas e feministas do corpo, tal como<br />

identificado pelo gênero, ela argumentou que esta palavra poderia<br />

funcionar como "uma ficção que mapeia... social e completamente a<br />

realidade, e como recurso imaginativo, que sugere algumas junções muito<br />

frutíferas" (Haraway, 1991:150).

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!