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Amigos Leitores - Intervenção urbana

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Se nós desejarmos usar a palavra "vida" para cobrir todos os fenômenos que<br />

nadam localmente contra a correnteza de crescente entropia, nós estamos<br />

em liberdade de fazê-lo. Porém, nós devemos incluir vários fenômenos<br />

astronômicos que possuem apenas uma vaga similaridade com a vida tal<br />

como nós ordinariamente a conhecemos. (Wiener, 1954: 32)<br />

Ao invés disso, porém, o autor defendeu um ponto de vista diferente e<br />

muito mais radical, argumentando que era<br />

melhor evitar todas perguntas que suplicam epítetos tais como "vida",<br />

"alma", "vitalismo" e similares, e dizer meramente que, em relação às<br />

máquinas, não há razão pela qual elas não podem lembrar seres humanos<br />

capazes de representar pequenas quantidades de entropia decrescente<br />

numa estrutura na qual a grande entropia tende a aumentar (1954: 32)<br />

A exigência pode ter contornado a espinhosa questão sobre a "vida" mas foi<br />

bem além do nível abstrato no qual foi proposta. Implicou em um novo<br />

modelo sistêmico para a estrutura dos organismos, que estava segregada<br />

desde o falecimento, no século XX, de uma visão mecanicista ou taxonômica<br />

simples da organização de plantas ou animais. No lugar delas, passou-se a<br />

conceber o organismo como "um sistema multinível de complexidade<br />

elaborada, apoiado em várias dimensões, para assim manter sua<br />

estabilidade metabólica em face de mudanças no meio, e equipado com um<br />

repertório de comportamentos capazes de garantir a coleta necessária de<br />

energia, materiais, etc." (Pratt, 1987: 180). Em outras palavras, passou-se a<br />

conceber o organismo como se fosse estruturado de acordo com<br />

"sofisticados sistemas de controle" e com seu cérebro servindo como um<br />

"coordenador superior" (Pratt, 1987: 180).<br />

Tal modelo de um organismo estruturado de acordo com um conjunto<br />

definido de mecanismos de controle também foi adotado pelos<br />

121<br />

ciberneticistas (Pratt, 1987:190, 194-6). De fato, poder-se-ia argumentar<br />

que a cibernética operacionalizou a questão da "vida", substituindo o<br />

conceito de organismo de "biológico" para "construído" e que, deste modo<br />

efetivamente transformou-o em um problema de equipamento pesado<br />

(hardwire). De acordo com seus novos parâmetros existenciais, o autômato<br />

cibernético wieneriano era "orgânico", ou "vivo", precisamente porque<br />

estava operacionalmente ativo; isto é, estava "efetivamente ligado ao<br />

mundo exterior, não meramente por [seus] fluxos de energia, [seus]<br />

metabolismos, mas também por um fluxo de impressões, de mensagens de<br />

entrada e da ação de mensagens de saída [do sistema]". A lógica da analogia<br />

cibernética garantia, em outras palavras, que a equivalência funcional fosse<br />

estabelecida ao nível dos órgãos sensoriais (Wiener, 1948a: 54), já que estes<br />

eram os meios principais pelos quais um organismo poderia manter uma<br />

existência estável, isto é, sistêmica, em um dado meio através da troca de<br />

informações.<br />

Ainda outra maneira de entender a natureza orgânica do autômato<br />

cibernético era através da temporalidade comum que ele compartilhava<br />

com o mundo dos organismos "vivos". Depois de notar que "a relação<br />

desses mecanismos [os novos automata] com tempo demandava estudo<br />

cuidadoso", Wiener apontou:<br />

É bem claro que a relação entrada-saída (input-output) é consecutiva no<br />

tempo, e envolve uma determinada ordem de passado-futuro. O que talvez<br />

não seja tão claro é que a teoria dos automata sensitivos é estatística. Nem<br />

sempre estamos interessados na performance de uma máquina de<br />

comunicação apenas por razões de transmissão. Para funcionar<br />

adequadamente ela deve ter uma performance satisfatória para toda uma<br />

classe de entradas. E isso significa uma performance estatisticamente<br />

satisfatória para a classe de entradas que ela está estatisticamente<br />

preparada para receber. Desse modo sua teoria pertence aos mecanismos

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