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Amigos Leitores - Intervenção urbana

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desenhados enquanto femininos, numa arqueologia que procura “(…) a<br />

descrição intrínseca do monumento”.(39)<br />

Se a constituição de categorias tais como gênero ou patriarcado, enquanto<br />

instrumentos analíticos pontuais das relações sociais foi fundamental para a<br />

expansão das teorias feministas, a crítica do sexo biológico enquanto<br />

determinante estratégico de relações hierarquizadas ainda é incipiente,<br />

apesar de sua existência já nos anos 70. Ti Grace Atkinsons, por exemplo,<br />

denuncia a heterossexualidade como instrumento de sujeição e de<br />

apropriação das mulheres (40), idéia retomada e reelaborada por Monique<br />

Wittig e Adrienne Rich nos anos 80.(41)<br />

Da mesma forma, Foucault examina a questão analisando o sexo biológico<br />

como um efeito discursivo. Assim, as condições de possibilidade atuais<br />

delimitam o alcance do feminismo em sua própria crítica, pois se a<br />

desnaturalização do sexo biológico promove a queda dos bastiões mais<br />

poderosos da divisão binária da sociedade com seus efeitos de apropriação<br />

e dominação, a identificação da heterossexualidade como locus e estratégia<br />

de poder está longe de ser incorporada ao discurso feminista.<br />

Entretanto o poder cria o corpo ao anunciá-lo sexuado, ao fazer de sua<br />

constituição biológica um fator “natural” que carrega características<br />

específicas e torna indiscutível a divisão dos seres humanos em dois blocos<br />

distintos. Isto não significa que o corpo humano não exista de forma<br />

sexuada, com um aparelho genital dado.<br />

O que o poder cria é outra coisa: é a importância dada a este fator corporal,<br />

é o sentido que se lhe atribui de revelador, de catalisador da essência do ser<br />

e da identidade do indivíduo. Estamos falando assim do sexo-significação<br />

cuja constituição em discurso e imagens é criada pelo próprio discurso e as<br />

representações nele contidas. O sexo-discurso produz corpos aos quais se<br />

158<br />

atribui uma sexo-significação de forma binária e normatizadora, em torno<br />

da reprodução - o dispositivo da aliança- e em sexualidades diversas que<br />

não cessam de se referir ao sexo “originário”, o reprodutor.<br />

Meu argumento é que, neste sentido, é indissociável a significação<br />

discursiva da significação corpórea atribuída ao humano em matrizes de<br />

inteligibilidade que produzem o sexo em experiências de gênero .<br />

O feminismo, em seu trabalho de des-naturalização do discurso biológico<br />

sobre a mulher vem se ocupando particularmente desta questão, desde os<br />

anos 70: para Nicole Claude Mathieu (42), por exemplo, passa-se da<br />

diferença sexual como eixo divisório do humano à idéia da diferenciação<br />

social dos sexo, da construção social desta diferença., ou seja, de seus<br />

mecanismos, estratégias, do desvelamento das representações que a<br />

fundamentam. Desta forma, para esta autora, a análise compreende não<br />

apenas a construção social dos gêneros mas a da instituição cultural do sexo<br />

biológico .<br />

A noção de “diferença de sexos” engendra e delimita, restringe e produz<br />

uma certa sexualidade que no caso das mulheres habita totalmente seu ser:<br />

SÃO seu sexo e existem enquanto mulheres pela sua função específica: a<br />

reprodução. (43) Mathieu explicita que: “ O gênero, isto é, a imposição de<br />

um heteromorfismo dos comportamentos sociais não é concebido (…) como<br />

a marca simbólica de uma diferença natural, mas como o operador do poder<br />

de um sexo sobre outro.”(44)<br />

De fato, vontade de verdade, vontade de poder, a ancoragem do gênero no<br />

sexo biológico é fundamento dos mecanismos de divisão e controle de um<br />

sexo sobre outro.

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