Amigos Leitores - Intervenção urbana
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hostis com o Movimento Radical de Liberação Gay. Vários integrantes da<br />
Nova Esquerda, que antes nutriam simpatia por Cuba, reduziram suas<br />
manifestações de adesão a Cuba por causa da questão gay. Os cubanos<br />
forçaram muitos a escolher entre a Revolução e o movimento de Liberação<br />
Gay e surpreendem-se muito ao topar com pessoas que escolhem os gays.<br />
GINSBERG – No começo, quando Castro fez a sua revolução disse que<br />
tratava-se de uma revolução marxista, mas ainda continua sendo uma<br />
revolução humanista. Se é uma revolução humanista, não podem atacar os<br />
homossexuais. De outra forma seria uma contradição. Acho importante<br />
apoiar qualquer distanciamento do imperialismo norte-americano, do seu<br />
excessivo consumismo, assim como qualquer modelo de independência do<br />
domínio psicológico norte-americano. Mas naturalmente a razão é<br />
precisamente a de voltar a ser humano e independente.<br />
Se a definição de humano e independente significa apoiar um velho e<br />
autoritário ponto de vista acerca da sexualidade – o ponto de vista<br />
monoteísta e católico – então seria aconselhável que os radicais norteamericanos,<br />
pelo menos, percebessem que, no caso cubano, estão tratando<br />
com seres humanos e não com autoridades divinas. Estou disposto a aceitar<br />
que a revolução cubana representa um autêntico alívio da dominação<br />
capitalista da máfia sobre a corrompida sociedade cubana prérevolucionária,<br />
além de representar também uma liberação do domínio da<br />
América do Norte.<br />
Em outras palavras, acho que a revolução cubana é importante e que deve<br />
ser apoiada. Eles mesmos logo aprenderão. De algum modo, acabarão por<br />
aceitar cabelos compridos e a pan-sexualidade. Terão de adotá-la como<br />
política estatal ante que deixem de existir, simplesmente para aliviar o<br />
problema da superpopulação. Acredito que os gays estão defendendo uma<br />
posição de grande força porque está baseada em regras ancestrais de<br />
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comportamento mamífero, de necessidade ecológica com relação ao futuro<br />
e ao reconhecimento de uma humanidade em comum. Portanto, acho que<br />
os gays podem se dar ao luxo de exclamar: “Ahhh!”<br />
Em Cuba, vi muitas outras coisas relacionadas à perseguição cultural.<br />
Interessei-me pela santería [cultos afro-cubanos, em castelhano no original].<br />
Fui à casa de um santero, nos arredores de Havana, para assistir a uma<br />
cerimônia do rito congolês e também a uma do rito iorubá. No meio da<br />
cerimônia chegou a polícia, pediu o nome e o endereço de todos e os<br />
presentes foram maltratados. Alegaram ser necessária uma permissão para<br />
qualquer tipo de reunião acima de dez ou doze pessoas depois de certa hora<br />
e mesmo a qualquer hora em residência particular. Eles sabiam<br />
perfeitamente quem éramos; estavam ali representantes da Casa de las<br />
Américas. Mais uma vez, tínhamos a burocracia policial contra a cultura.<br />
Um dos motivos de orgulho em Cuba era a aceitação da herança cultural<br />
africana. A santería era um dos mais importantes e ancestrais rituais tribais<br />
que tinha resistido à igreja cristã dos brancos e ali estavam eles<br />
interrompendo a cerimônia! Ao que parece, havia a tentativa de desativar a<br />
prática da santería porque esta era vista como uma autoridade que<br />
rivalizava com a do Estado.<br />
Lembro-me que em Cuba a maioria dos brancos de formação católica era<br />
indiferente à cultura negra e ao coração desta, a santería. Mas entre os que<br />
a apreciavam estavam alguns velhos pintores e alguns poetas gays.<br />
YOUNG – Dois amigos estiveram recentemente em Cuba e me disseram que<br />
a perseguição à santería continua. Ao mesmo tempo, há uma trégua entre o<br />
governo cubano e a Igreja Católica. A Declaração Cubana do Congresso<br />
sobre Educação e Cultura ataca especificamente a santería, mas fala em